🔥SP: PCC é arma eleitoral de grosso calibre
#12: Apoiadores de candidatos se dividem em duas tropas para trocar acusações de ligação com o crime
Um tsunami de mensagens foi despejado nesta semana em mais de 88 grupos públicos de WhatsApp e Telegram tentando associar grandes nomes da campanha eleitoral de São Paulo ao Primeiro Comando da Capital (PCC), maior organização criminosa do Brasil. O material não só traz graves trocas de acusações como também se utiliza de uma das técnicas mais comuns na disseminação de notícias falsas: a amplificação do medo.
Segundo dados da Palver, entre os dias 5 e 11 deste mês, mais de 114 mensagens únicas mencionando o PCC e o nome de ao menos um dos candidatos à prefeitura de São Paulo impactaram mais de 130 mil usuários de WhatsApp e Telegram no país.
De um lado da conversa, estão apoiadores de Pablo Marçal (PRTB) e Marina Helena (Novo) e suas tentativas de atrelar a Guilherme Boulos (PSOL) a pecha de "sócio do PCC". Do outro lado, militantes de esquerda e seguidores de Ricardo Nunes (MDB), com mensagens acusando Marçal de ser o verdadeiro link da política local do momento com o grupo criminoso que controla os presídios do estado.
No período analisado pela Ebulição, um dos conteúdos mais virais contra Boulos foi um vídeo em que a candidata Marina Helena aparece ao lado do ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol, também do Novo, e acusa um suposto membro da campanha do psolista de receber verba do PCC. A Palver mostra que esse material aterrissou em pelo menos seis grupos públicos de WhatsApp e que partiu de telefones com códigos de áreas não de São Paulo, mas de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás e Rio Grande do Norte. Em todas as mensagens que replicavam a gravação, além da íntegra do vídeo originalmente postado no Tiktok, havia um mesmo texto em maiúsculas:
Com 45 segundos de duração, o vídeo tenta juntar duas narrativas que estão marcando a campanha eleitoral paulistana: a de que Boulos consome drogas e a de que um de seus coordenadores de campanha tem ligações com o crime.
Fato é que não há provas de que o psolista seja dependente químico (falamos sobre isso na 🔥Ebulição SP #11) ou de que Antonio Donato, coordenador da pré-campanha de Boulos, recebeu em 2020 uma doação de um empresário de ônibus que foi preso por suspeita de ligação com o PCC. O dinheiro seria usado na campanha para vereador do próprio Donato – não na atual campanha de Boulos. A Folha de S.Paulo contou a história em detalhes em abril.
Do outro lado da conversa, dois tipos de conteúdo associando Marçal ao PCC viralizaram no período analisado. O primeiro são mensagens que tentam convencer o eleitor de que o "M" que Marçal faz com os dedos da mão sempre que pode é, na verdade, uma referência à gíria "tudo três" ou "TD3", tida como um código do PCC e de criminosos da Bahia para identificar espaços territoriais controlados. Não há como provar que isso seja verdadeiro.
O segundo são links de blogs que reportaram de forma partidária que Marçal teria mudado de tom e agora defende o presidente de seu partido, Leonardo Avalanche, acusado de ligações com o PCC. Há também menções a acusações semelhantes feitas por Tabata Amaral (PSB) e Ricardo Nunes (MDB) contra o candidato do PRTB.
Essas postagens amplificam reportagem e áudios divulgados pela Folha nos quais Avalanche aparece dizendo que participou da libertação do traficante André do Rap, um dos principais líderes do PCC, em 2020. Destacam que, a princípio, Marçal se distanciou do político, mas agora diz que ele tem direito a se defender – e isto é verdadeiro.
Por trás da intenção de associar os políticos a um dos grupos criminosos mais famosos do Brasil, não estão apenas o ataque pessoal e a busca de voto, mas também o uso da sensação de instabilidade e insegurança como arma de campanha. A possibilidade de alguém ligado ao PCC gerir a maior cidade do país precisa ser riscada do mapa, mas com dados e informações concretos e reais, não com materiais que disseminam o pânico, a ansiedade e o medo entre a população.
E mais…
Os comerciantes da "Rua das Motos", no centro de São Paulo, popularmente conhecida pelo comércio de peças de carro nem sempre adquiridas de forma lícita, não gostaram de ver José Luiz Datena (PSDB) por lá na última terça-feira (10). "Você me chamou de ladrão na televisão", reclamou um indivíduo que se aproximou do tucano enquanto ele falava à imprensa, instigando outras pessoas a também criticá-lo. Desconfortável, o político entrou num carro e deixou o local sob vaias e xingamentos. Como âncora de um programa de TV que costuma tratar de questões de segurança, Datena fez diversas críticas à "Rua das Motos" e aos negócios obscuros que dizem acontecer ali. Desde 1º de setembro, quando quase brigou com Marçal no debate eleitoral promovido pela TV Gazeta e o canal MyNews, Datena tem sido retratado em grupos públicos de WhatsApp e Telegram como uma pessoa geniosa, cabeça quente. O episódio desta semana viralizou, impactando pelo menos 25 mil pessoas.
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Nota da autora
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Um abraço carinhoso!Cris Tardáguila
Fundadora e repórter da Lupap.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
Metodologia desta edição
Termos buscados: "Guilherme Boulos" OR Boulos OR Datena OR "Ricardo Nunes" OR "Tabata Amaral" OR Tabata OR "Kim Kataguiri" OR Kim OR kataguiri OR "Maria Helena" OR "Abraham Weintraub" OR Weintraub OR "Altino Prazeres" OR Altino OR "Pablo Marçal" OR Marçal OR "Ricardo Senese" OR "Fernando Fantauzzi" OR "João Pimenta" OR prefeito OR prefeitura OR PCC OR "tudo três" OR TD3 OR xingamentos OR
Período: 5 a 11 de setembro de 2024
Recorte geográfico: Brasil
Recorte idioma: português
Plataformas observadas: WhatsApp e Telegram
Ferramenta de apuração: Palver
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