🔥SP: Boulos e a Galinha Pintadinha
#11: Paródia de hit infantil associa Boulos a drogas; debate sobre samba põe cultura na agenda
Uma paródia do hit infantil da Galinha Pintadinha "Pó Pó Pó", feita por um canal humorístico do YouTube, tem sido usada por apoiadores de Pablo Marçal (PRTB) para martelar a narrativa – sem provas – de que Guilherme Boulos (PSOL) usa drogas e, portanto, não deve ser eleito.
Com cerca de um minuto e meio de duração, a paródia da Banda Estragona mistura trechos musicados de falas de Boulos no debate da Band com imagens alternadas do videoclipe infantil e cenas de favelas ocupadas e narcóticos apreendidos. A letra sugere que "São Paulo transforma os sonhos em pó" e que Boulos aprendeu tudo que sabe com quem lhe deu pó. O refrão é simples: "Pó, Pó, Pó, Pó, Póóóó" (e gruda).
Dados da Palver e de redes sociais mostram que o conteúdo se espalhou não só no YouTube na última semana, mas também no X, no TikTok e no WhatsApp, alcançando diversos perfis de usuários da internet – o que faz do caso algo relevante, segundo a escala de viralização desenvolvida por Ben Nimmo, um dos mais respeitados estudiosos da desinformação em todo mundo.
Uma busca por "Farinha Pintadinha" na segunda-feira (9) mostrou que ao menos 10 canais de YouTube repostaram o vídeo, chegando a 23 mil visualizações. No X, ao menos três perfis amplificaram a gravação com mensagens em português, apesar de a plataforma estar suspensa no Brasil. No TikTok, cinco contas angariaram quase 5 mil views do vídeo "Farinha Pintadinha". No WhatsApp, a paródia tinha impactado, até ontem, pelo menos três grupos públicos de WhatsApp, alcançando mais de 1,7 mil membros.
A associação do psolista às drogas na campanha deste ano segue o mesmo roteiro usado pela extrema-direita em 2018 para ligar o então candidato do PT à presidência da República, Fernando Haddad, ao chamado kit gay. Em ambos os casos, a militância investe numa aproximação falaciosa apostando que uma mentira repetida mil vezes pode entrar no imaginário popular como sendo uma verdade.
Em 28 de agosto, uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou, no entanto, que Marçal recorreu ao caso de um réu homônimo de Boulos para tentar conectar o político às drogas. A campanha do PRTB jamais respondeu à publicação sobre esse assunto.
Em 2018, a campanha de Jair Bolsonaro à presidência lançou mão de um material que visava a combater a homofobia mas que ainda não havia sido revisado nem aprovado pelo Ministério da Educação de Haddad para dizer, por exemplo, que mamadeiras com o bico em formato de pênis poderiam ser entregues às creches do Brasil caso o petista fosse eleito presidente.
Em sua página no YouTube, a Banda Estragona, cujo nome aparece no canto superior esquerdo dos clipes-paródia, informa que seus vídeos "não são notícia e não são informação". Que não passam de "caricaturas musicais" e que o visitante não deve formar sua opinião baseando-se nelas.
No mesmo espaço, a 🔥Ebulição encontrou montagens com diversos outros políticos de renome nacional. Marçal, por exemplo, ganhou uma versão – favorável a ele – de "Gangsta Paradise", hit que o rapper americano Coolio colocou nas paradas de sucesso em 1995.
E mais…
Um vídeo intitulado "Marçal? Nota zero" aterrissou em 16 grupos públicos de WhatsApp na semana passada com um pedido expresso destinado à militância de Guilherme Boulos (PSOL): amplificá-lo entre amigos que "ainda estão confusos" sobre as eleições de São Paulo. A gravação, de cerca de um minuto, reúne cenas em que Pablo Marçal (PRTB) aparece dizendo frases polêmicas (entre elas a pergunta sobre "quem pagaria R$ 5 mil no almoço de um mendigo") e tomando atitudes destemperadas (como derrubar papéis, copos e canetas de uma grande mesa). Dados da Palver mostram que esse conteúdo pode ter chegado a 4 mil pessoas.
Treze grupos de WhatsApp (com mais de dois mil membros no total) receberam na última semana um convite da campanha de Guilherme Boulos (PSOL) para debater "a importância do samba". Em quase um mês de monitoramento de mais de 80 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram, esta é a primeira vez que a 🔥Ebulição vê um tema relacionado à cultura entrar na lista dos assuntos mais virais.
A 🔥Ebulição também circula em formato de vídeo, sempre aos fins de semana. Clique aqui e veja o último resumo das edições da semana passada feito em parceria com o Meio.
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Nota da autora
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Um abraço carinhoso!Cris Tardáguila
Fundadora e repórter da Lupap.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
Metodologia desta edição
Termos buscados: "Guilherme Boulos" OR Boulos OR Datena OR "Ricardo Nunes" OR "Tabata Amaral" OR Tabata OR "Kim Kataguiri" OR Kim OR kataguiri OR "Maria Helena" OR "Abraham Weintraub" OR Weintraub OR "Altino Prazeres" OR Altino OR "Pablo Marçal" OR Marçal OR "Ricardo Senese" OR "Fernando Fantauzzi" OR "João Pimenta" OR prefeito OR prefeitura OR "farinha pintadinha" OR hit OR música OR boules OR "nota zero"
Período: 2 de agosto a 9 de setembro de 2024
Recorte geográfico: Brasil
Recorte idioma: português
Plataformas observadas: WhatsApp, TikTok, YouTube e X (a partir dos EUA)
Ferramenta de apuração: Palver e sistemas de buscas das redes sociais
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