š„Falso alerta liga Pix a bloqueio do WhatsApp
Desinformadores apostam em opor pequenos empreendedores ao governo, repetindo modelo EUA 2024
Entender a desinformação que circula em grupos públicos de WhatsApp e Telegram é vital para quem quer entender e combater esse fenÓmeno no Brasil. Compartilhe este link e nos ajude a ampliar nossa comunidade.
Para empurrar a narrativa ā falsa ā de que o governo federal vai taxar transaƧƵes financeiras realizadas pelo Pix, grupos pĆŗblicos de WhatsApp espalharam nos Ćŗltimos dias pelo paĆs uma falsa āmensagem de sistemaā que sugere que quem fez transaƧƵes acima de R$ 5 mil por esse mĆ©todo de pagamento estĆ” suspenso do app de mensagens atĆ© segunda ordem e sob investigação da Receita Federal.
Embora pareça (e talvez seja) uma brincadeira (de mau gosto), a mensagem, que jÔ atingiu mais de 3 mil pessoas, tem o potencial de ser levada a sério pelos mais desatentos e de ampliar a ansiedade gerada em torno do Pix. Trata-se, no entanto, de apenas mais um exemplo de falsidade econÓmica que claramente se insere em uma estratégia maior de semear desconfiança em relação à saúde financeira do Brasil.
O texto em questĆ£o (veja imagem abaixo) comeƧa com a letra āiā inserida num mini cĆrculo ā sĆmbolo comumente usado para identificar alertas informativos ā e afirma, com todas as letras sublinhadas, que os membros daquele grupo pĆŗblico de WhatsApp tiveram suas contas suspensas no aplicativo por estarem sendo supostamente investigados por transaƧƵes feitas em Pix com valores acima de R$ 5 mil. Nada disso Ć© verdade. O WhatsApp nĆ£o suspendeu ninguĆ©m por conta do Pix e essa mensagem nĆ£o vem da Meta.
Dados da Palver, plataforma que monitora anonimamente redes sociais e aplicativos de mensagens, mostram que, entre os dias 10 e 13 de janeiro, dezenas de grupos públicos de WhatsApp no Brasil foram impactados por essa desinformação e que a disseminação desse conteúdo começou por Minas Gerais, passando por Rio de Janeiro, GoiÔs, Bahia e Pernambuco. Tudo isso num prazo de apenas 72 horas.

Uma anĆ”lise cuidadosa dos grupos que foram impactados pela falsa āmensagem de sistemaā mostra que eles tendem a ser espaƧos crĆticos ao governo, onde proliferaram, por exemplo, āfakesā sobre o dólar cotado a R$ 7 no fim do ano passado (como contamos aqui) e memes sobre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sendo chamado de āTaxadā por conta do āimposto das blusinhasā, em meados de 2024.
Assim como ocorreu nos Estados Unidos nas proximidades da eleição presidencial do ano passado, a desinformação de cunho econĆ“mico parece ganhar espaƧo entre as notĆcias falsas que viralizam no Brasil. A ideia Ć© convencer o cidadĆ£o comum de que o governo atual Ć© inimigo do pequeno e mĆ©dio empreendedor e que toma medidas alinhadas com os interesses dos banqueiros e milionĆ”rios do paĆs.
Nessa onda de mentiras sobre o āimposto do Pixā, um dos conteĆŗdos mais virais (que inclusive levou a seta dupla da Meta por ter sido frequentemente encaminhado na plataforma) consiste numa mensagem que conta a história fictĆcia de uma nota de R$ 50 que passa por uma sĆ©rie de pequenos comerciantes ā barbeiro, mercado, lava-jato ā e que, por ser um pedaƧo de papel, nĆ£o perde valor nem paga imposto.
O texto em questão termina dizendo que a criação do Pix sem imposto foi feito justamente para facilitar essa movimentação e sugere que os banqueiros não teriam gostado da popularização do método de pagamento. Estariam agora pressionando o governo federal para encontrar uma forma que os permitisse voltar a abocanhar um pedaço do que ganha o pequeno empreendedor. Nas entrelinhas, hÔ, sem dúvida, um aceno ao bolsonarismo, que, na opinião dessas pessoas, teria protegido esse grupo quando estava no poder.
Mas tudo nessa mensagem que jĆ” atingiu mais de 7 mil usuĆ”rios de WhatsApp estĆ” errado. TransaƧƵes financeiras legais no Brasil requerem a emissĆ£o de nota fiscal e pagamento de impostos, independentemente do modelo de pagamento utilizado. Barbeiros, mercados e lava-jatos nĆ£o podem sonegar impostos sobre suas vendas e prestaƧƵes de serviƧo. Assim sendo, a nota de R$ 50 que circula sem ser vista atĆ© pode existir na vida real, mas caracteriza caixa dois. NĆ£o Ć© bacana. TambĆ©m Ć© falsa a ideia de que quem inventou o āPix livreā foi o ex-presidente Jair Bolsonaro. O Pix vem do governo de Michel Temer.
Por fim, vamos repetir: nĆ£o hĆ” imposto sobre Pix. HĆ” uma nova norma da Receita Federal que prevĆŖ que as instituiƧƵes financeiras e meios de pagamento regulados pelo Banco Central precisam informar Ć Receita quando o total de transaƧƵes em uma mesma conta bancĆ”ria ultrapassar um limite preestabelecido. No caso de contas ligadas a pessoas fĆsicas, a Receita serĆ” informada quando o montante transacionado superar R$ 5 mil mensais. No caso de empresas, quando superar R$ 15 mil. O objetivo Ć© combater operaƧƵes suspeitas. Ou seja: nĆ£o hĆ” uma nova taxa. NĆ£o hĆ” mudanƧas para o cidadĆ£o na hora de fazer o Pix. HĆ” uma comunicação entre instituiƧƵes. Explique isso por aĆ e tenha cuidado para nĆ£o defender a sonegação de impostos ā que Ć© crime.
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E maisā¦
Mais de 72 mil usuĆ”rios de WhatsApp trocaram farpas nos Ćŗltimos trĆŖs dias pelo WhatsApp por conta do convite que o presidente americano Donald Trump teria enviado por email ao ex-presidente Jair Bolsonaro, chamando o brasileiro para participar de sua posse, marcada para 20 de janeiro em Washington, D.C. Em grupos de esquerda, multiplicaram-se memes de que o convite nĆ£o existia, com imagens de emails truncados e de uma folha de caderno escrita a lĆ”pis, numa referĆŖncia ao meme āeste bilhete Ć© verdadeiro". Grupos de direita reagiram com forƧa espalhando vĆdeos e links que sugerem que Bolsonaro Ć© o primeiro na lista de convidados. O que se sabe Ć© que o passaporte do ex-presidente estĆ” retido e que o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes pediu a apresentação de um āconvite formalā, nĆ£o um email, para analisar o pedido de viagem de Bolsonaro. Isso nĆ£o havia acontecido atĆ© o fechamento desta edição da š„Ebulição.
Nota da autora
A š„Ebulição Ć© pensada para atender Ć s suas necessidades. Mande seus comentĆ”rios e sugestƵes para cris@lupa.news.Um abraƧo carinhoso,
Cris TardĆ”guilaĀ Ā
Fundadora e repórter da Lupa
p.s: A Lupa segue o Código de Ćtica da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparĆŖncia e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
Metodologia desta ediçãoĀ
Metodologia de trabalho utilizada nesta edição
Query 1: pix AND forwarding_score:127
Query 2: āeste usuĆ”rio foi temporariamente suspenso do whatsapp"
Query 3: bolsonaro AND convite
PerĆodo: 10 a 13 de janeiro de 2025
Recorte idioma: PortuguĆŖs
Plataformas observadas: Grupos pĆŗblicos de WhatsApp
Ferramentas de apuração: Palver.com.br
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Obrigada por ler a Ebulição!