🔥WhatsApp vira arma do agro em fúria
Agricultores reclamam do governo Lula e de ameaças externas vindas até mesmo da China
🗞️ O que está acontecendo?
Na última semana, uma onda de mensagens pró-agronegócio impactou ao menos 178 grupos públicos de WhatsApp e Telegram em todo o Brasil, impulsionada por notícias quentes como a paralisação de produtores rurais no Rio Grande do Sul e por falas contundentes do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre o setor.
A maioria das postagens acusa o governo federal de ter abandonado os produtores rurais do país, sem oferecer apoio suficiente para enfrentar a expansão da China e as tarifas impostas pelos Estados Unidos. De acordo com dados da Palver, essas mensagens podem ter chegado a cerca de 790 mil pessoas em todo Brasil, mostrando a força e a velocidade dessa narrativa.
📊 O contexto importa:
No dia 16 de maio, Bolsonaro apareceu em um vídeo polêmico dizendo que existe um plano deliberado do governo Lula para enfraquecer o agronegócio, impulsionar a reforma agrária e favorecer o avanço da China em território brasileiro. Sem apresentar evidências, Bolsonaro falou sobre o risco de faltar comida no Brasil e denunciou o que considera ser a “demonização” dos produtores rurais pelo governo federal.
Cerca de dez dias depois, em 25 de maio, outro movimento: agricultores gaúchos protestaram em rodovias. Eles já tinham bloqueado estradas em mais de 60 municípios do Rio Grande do Sul, pedindo que Brasília apresentasse medidas capazes de amenizar as dificuldades financeiras decorrentes de quatro anos de secas, das históricas enchentes de 2024 e de prejuízos que eles calculam passar de 72 bilhões de reais.
Na quinta-feira (29), o governo federal autorizou a prorrogação de dívidas rurais com recursos subsidiados e liberou uma linha de capital de giro para cooperativas gaúchas. Aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a medida permite a prorrogação de parcelas de custeio por até três anos e o adiamento de parcelas de investimentos para um ano após o fim do contrato, mas não foi o suficiente para conter a insatisfação.
Na sexta-feira (30), quando o IBGE divulgou dados do PIB, dando destaque ao papel fundamental da agropecuária no crescimento do país, a fúria tomou os grupos públicos de WhatsApp e Telegram. Em várias mensagens monitoradas pela Palver, está explícita a intenção de espalhar a insatisfação dos gaúchos pelo país, articulando uma possível greve geral.
🎥 O que viralizou:
Das 740 mensagens únicas sobre o agronegócio monitoradas pela Palver na última semana, ao menos 57 foram classificadas pela Meta como altamente virais e circulam atualmente no WhatsApp com o ícone de seta dupla.
O vídeo mais compartilhado nesse universo traz uma mensagem de apoio aos agricultores do Rio Grande do Sul, que estão “paralisados e protestando em busca de sobrevivência”, após enfrentarem enchentes e seca. O narrador acusa o governo federal de ter cortado o crédito do Plano Safra e de gastar bilhões em supostos luxos e propaganda. Ele repete a linha de discurso de Jair Bolsonaro ao afirmar que o governo quer “quebrar o agro para tomar as terras” e conclui com um apelo à população para aderir a uma “paralisação geral” em defesa do campo. “O Brasil é maior do que esse governo”, diz.
Entre as mensagens que sustentam a ideia de que o governo não está fazendo o suficiente para proteger o agro de políticas internacionais e de interesses estrangeiros, dois vídeos chamam atenção. Um deles mostra um homem criticando um acordo entre Brasil e Angola que supostamente prevê o “empréstimo de 500 mil reais” para apoiar a produção agrícola no país africano. O narrador questiona por que, segundo ele, o governo Lula tem dinheiro para investir no exterior, mas não para os produtores brasileiros — e liga a crítica à paralisação no Sul, que poderia se espalhar para todo o Brasil.
O segundo vídeo traz um discurso ainda mais alarmista: acusa o Brasil de estar “alimentando o dragão” chinês, que busca dominar o mundo e implantar uma agricultura escravizada por aqui. A gravação também menciona as tarifas dos EUA e elogia as restrições impostas pelos americanos à China — entre elas, a proibição da compra de terras no Texas. Sugerindo que o Brasil deveria seguir o mesmo caminho e que essa seria uma maneira de agradar os produtores rurais.
💬 Por que isso importa?
O agronegócio é um dos pilares da economia brasileira, representando cerca de 23% do PIB e sendo responsável por milhões de empregos. O fato de produtores rurais terem começado a se organizar em protestos — como ocorre no Rio Grande do Sul — e de estarem espalhando mensagens de insatisfação por canais públicos de WhatsApp e Telegram não deve ser ignorado por ninguém. É hora de prestar atenção na estabilidade econômica. Ela — sim — já pode estar correndo algum risco.
Vale lembrar aqui que foram mensagens de WhatsApp que, em 2018, levaram a uma greve de caminhoneiros que paralisou o país durante dias, provocando escassez de alimentos, combustíveis e remédios. O movimento dos agricultores gaúchos claramente se inspira naquele momento e também ecoa preocupações semelhantes: uma insatisfação com o governo federal. Hora de abrir o olho.
E mais…
Pelo menos 16 grupos de WhatsApp e Telegram (com mais de 30 mil pessoas no total) viram, na última semana, um vídeo em que o pastor Silas Malafaia acusa o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de manipular depoimentos e controlar testemunhas no inquérito sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. Como suposta prova, Malafaia destaca um episódio em que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, deixou o microfone aberto durante uma audiência e foi flagrado dizendo que havia cometido “uma cagada” ao formular perguntas supostamente impróprias ao ex-ministro Aldo Rebelo. A gafe aconteceu durante a oitiva de Rebelo, que depunha como testemunha de defesa do ex-comandante da Marinha, Almir Garnier. Ao ser questionado se a Marinha teria condições de agir sem o apoio do Exército na tentativa de golpe, o advogado de Garnier contestou a pergunta. Na sequência, Gonet, sem perceber que o áudio ainda estava ligado, reconheceu o erro — declaração que virou munição para as críticas de Malafaia e alimentou teorias sobre uma suposta tentativa de manipulação dos depoimentos referentes a esse episódio. Malafaia é um amplo defensor da anistia aos presos do 8 de janeiro.
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Metodologia desta edição
Query 1: Agro
Query 2: gonet
Query 3: china or angola
Período: 25 de maio a 2 de junho de 2025
Recorte idiomas: Português
Plataformas observadas: Grupos públicos de WhatsApp e Telegram
Ferramentas de apuração: Palver.com.br
p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
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Obrigada por ler a 🔥Ebulição!
Seria uma reação sobre a reação? Um reforço de narrativa para deixar a PL da devastação ainda mais impermeável a qualquer possibilidade do movimento contrário ganhar um pouco de tração e expor parlamentares? Malafaia reagindo ao podcast investigativo "No alvo”?