🔥‘Tá caro? Não compra’ de Lula caiu mal
Sugestão feita pelo presidente para enfrentar alta dos alimentos impactou mais de 800 mil nos apps
Entender a desinformação que circula em grupos públicos de WhatsApp e Telegram é vital para quem quer compreender e combater esse fenômeno no Brasil. Conhece alguém que poderia se interessar por este conteúdo? Compartilhe este link aqui.
🗞️ O que está acontecendo?
Depois de enfrentar uma onda de desinformação sobre uma suposta taxação do Pix e outra sobre uma imaginária autorização para que alimentos vencidos fossem vendidos em supermercados, o governo federal entra na sétima semana de 2025 lidando com mais uma controvérsia que poderia ter evitado.
Desde quinta-feira (6), mais de 840 mil usuários de WhatsApp e Telegram do Brasil podem ter sido impactados por cerca de 600 mensagens únicas que amplificaram — de forma majoritariamente negativa — a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a alta registrada nos preços dos alimentos: “Tá caro? Não compra.”
A frase do presidente, dita numa entrevista concedida a um meio de comunicação baiano e que está sendo considerada um “deslize” até mesmo por aliados do governo, pôs fogo nas conversas que inundam os aplicativos de mensagem. Se de um lado viralizam memes e conteúdos agressivos contra Lula e sua política econômica, de outro, surgem esforços para minimizar a “bola fora”, sugerindo que a frase está sendo tirada de contexto, e que a alta dos alimentos observada agora não é tão grande assim.
📊 O contexto importa:
Em 10 de janeiro, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) anunciou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado o indicador oficial da inflação no Brasil, tinha acumulado uma alta de 4,83% em 2024 e que os alimentos haviam contribuído bastante para isso. O grupo Alimentação e bebidas teve em dezembro seu quarto mês de alta consecutiva e fechou o ano subindo 7,69% — o que não é pouco.
Mas uma análise histórica dos dados — gerada pela imprensa com base em dados públicos e já capturada pelos governistas — mostra que os alimentos subiram mais durante o governo de Jair Bolsonaro. Em 2020, primeiro ano da pandemia, os preços de alimentos e bebidas registraram alta de 14%. Nos anos seguintes, a inflação do setor permaneceu elevada, atingindo mais de 7% em 2021 e ultrapassando 11% em 2022.
Mas, no mundo dos apps, dados parecem importar pouco.
🎥 O que mais viralizou:
Entre os críticos de Lula, ganhou popularidade a informação de que o presidente usava uma gravata de R$ 1,6 mil ao pedir que os brasileiros boicotassem produtos caros. Segundo dados da Palver, pelo menos 78 mensagens únicas apontando a suposta contradição aterrissaram em 61 grupos de WhatsApp e Telegram desde quinta, podendo ter impactado mais de 174 mil pessoas.
Nessa toada, também ganhou tração a entrevista em que o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), disse que, se a solução para reduzir preços era cortar o que anda caro, então seria hora de “cortar o PT”. Mais de quinze grupos públicos de WhatsApp e Telegram com um total de 20 mil pessoas podem ter recebido esse material nos últimos dias.
Num tom mais leve e irônico, viralizaram ao menos duas imagens geradas por inteligência artificial que colocam o rosto do presidente em um corpo de monge. Os memes, que podem ter alcançado 10 mil brasileiros, vêm acompanhados de um texto irônico que sugere que o presidente visitou o sul da Ásia e conheceu “monges e gurus que meditavam por semanas, sobrevivendo apenas do prana do universo”, o que seria uma justificativa para que os brasileiros deixassem de comprar comida.
Entre os apoiadores de Lula, dois movimentos se destacaram. O primeiro, que se auto-intitula “Multiplicadores de boas notícias", distribuiu por pelo menos 13 grupos de WhatsApp uma mensagem que sugere que a polêmica fala de Lula foi tirada de contexto. Para provar essa tese, mostrava a íntegra do vídeo do presidente explicando seu raciocínio e dizendo que não comprar o que é caro faz parte de um movimento normal. Pouco mais de mil pessoas tinham sido expostas a esse material até a noite de ontem.
O segundo grupo, que apostou em explicar “a verdade sobre o preço dos alimentos”, distribuiu um texto que diz que o governo Lula não é culpado pela alta e elenca cinco fatores para sua existência: desastres naturais (enchentes no RS), custos de energia e combustíveis, aumento da demanda por uma suposta melhoria de vida dos brasileiros, ajustes pós-pandemia e a falta de estoques públicos. Três mil pessoas podem ter sido expostas à essa narrativa em oito grupos públicos de WhatsApp.
Mas, no campo governista, o que foi realmente mais longe foi um trecho de um programa de televisão em que a jornalista Miriam Leitão explica didaticamente como os preços dos alimentos sofreram alta ainda maior nos anos do governo Bolsonaro. Mais uma prova da importância da mídia em momentos de dúvida e hesitação.
💬 Por que isso importa?
Houve uma troca ministerial — saiu Paulo Pimenta, entrou Sidônio Palmeira — e, ao que tudo indica, a comunicação do governo federal continua patinando. Trata-se da terceira grande batalha de narrativas que se trava em redes sociais e apps de mensagem desde o início do ano. E não se passaram nem dois meses.
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E mais…
Morreu ontem em São Paulo a primeira criança (11 anos) vítima de dengue em 2025, e o caso fez com que o assunto (já velho conhecido de todo verão) voltasse aos grupos públicos de WhatsApp e Telegram do país. Entre as mais de 250 mensagens únicas que trataram do tema nos últimos sete dias, há (perigosas) trocas de receitas para “elevar as plaquetas" com caldo de cana (veja verificação feita pela Lupa aqui), conversas sobre a eficácia da vacina, sobre a distribuição de kits de testagem e a realização de mutirões de limpeza. Lembre-se que o mosquito que transmite essa doença procria em água limpa e parada. Cuide-se imediatamente.
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Nota da autora
A 🔥Ebulição é pensada para atender às suas necessidades. Mande seus comentários e sugestões para cris@lupa.news.Um abraço carinhoso,
Cris Tardáguila
Fundadora e repórter da Lupa
p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
Metodologia desta edição
Query 1: (lula AND comida) OR (lula AND caro) OR (lula AND "não compra")
Query 2: lula AND gravata
Query 3: “multiplicadores de boas notícias” AND “a verdade sobre o preço dos alimentos”
Query 4: dengue
Período: 5 a 10 de fevereiro de 2025
Recorte idioma: Português
Plataformas observadas: Grupos públicos de WhatsApp e Telegram
Ferramentas de apuração: Palver.com.br
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Obrigada por ler a 🔥Ebulição!
Por que tudo sobre o que ocorre no governo Lula é justificado comparando ao desempenho do presidente anterior, Bolsonaro?
Não há nada mais inteligente e crível a fazer?