🔥SP: propostas de lado, o que vale é a briga
#2 Manterrupting de Datena e 'cheiradores' de Marçal mostram que emoção mobiliza mais nos apps
Na sabatina realizada pelo G1 na última terça-feira (6), o apresentador e candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo José Luiz Datena comparou as ações levadas à cabo pela atual administração municipal na Cracolândia com o "nazifascismo". Em seguida, disse que Ricardo Nunes (MDB) "está desesperado pela reeleição porque corre o risco de ir pra cadeia". No mesmo evento, ainda revelou que seu verdadeiro sonho é ser senador por São Paulo. Nenhum desses assuntos mobilizou tanto os usuários de WhatsApp e Telegram do país quanto a discussão que Datena teve, no ar, com a jornalista Natuza Nery, que conduzia a entrevista.
Dados da ferramenta de social listening Palver mostram que ao menos 13 grupos públicos ativos (que reúnem mais de 34 mil pessoas) receberam e interagiram com links e vídeos que mostravam a apresentadora reclamando por ter sido interrompida com recorrência por Datena durante a conversa. Depois de pedir que ele escutasse suas perguntas até o fim, Natuza apresentou-lhe o conceito de manterrupting. O momento caiu nas redes como uma luva.
O total de treze grupos que engajaram na conversa sobre o entrevero entre Datena e Natuza é seis vezes maior do que o que discutiu a acusação de nazifascismo na Cracolândia. É 13 vezes maior do que o que foi exposto a mensagens sobre o suposto medo de Nunes de ser preso. E é quatro vezes maior do que o total de grupos que leram, viram ou ouviram mensagens sobre aquele que seria o verdadeiro sonho político de Datena, o Senado. A tabela a seguir mostra a diferença.
No ambiente digital, é comum que discussões como a protagonizada por Natuza e Datena se espalhem como fogo. E isso tem a ver com o apelo emocional dessas situações. De um lado, mensagens indicavam o quanto o caso foi absurdo e exemplificava o machismo recorrente na política nacional. De outro, dizia-se que a jornalista buscava apenas "lacrar" ou marcar posição pessoal em cima do candidato.
Questões relacionadas ao machismo e à igualdade de gênero são parte do debate político. Integram as conversas da chamada "pauta de costumes", mas, no caso em análise, o fato de ter gerado um bate-boca impulsionou a distribuição do conteúdo como nada naquele dia.
Na mesma linha de engajamento, através de temas que pouco têm a ver com a atividade político-partidária ou mesmo com propostas de campanha, navegou Pablo Marçal (PRTB). No evento de oficialização de sua campanha (na última segunda-feira, 5), o candidato disse que não vai usar dinheiro público na corrida eleitoral e que considera que uma "caneta Bic e um mandato" são os únicos ingredientes para resolver a questão do Plano Diretor da maior cidade do Brasil. Mas o que verdadeiramente entrou em ebulição nos aplicativos de mensagem foi o fato de Marçal ter acusado dois de seus rivais na campanha de serem "cheiradores de cocaína". A fala – sem alvos específicos e sem qualquer prova – alcançou, segundo dados da Palver, ao menos 158 mil usuários de WhatsApp e Telegram. Foi motivo de um total de 48 mensagens distribuídas entre os dias 5 e 7 deste mês.
Assim sendo, quando você ouvir que as redes sociais se movem essencialmente por conteúdos que geram medo, felicidade ou qualquer outro sentimento, lembre-se desses dois casos. Brigas, bate-bocas, ameaças, independentemente do assunto, engajam sempre, deixando de lado debates sobre propostas e visões de mundo e de governo. E outros muitos episódios desse tipo ainda virão.
E mais…
Ao anunciar a professora e ex-primeira-dama de São Paulo Lúcia França como sua candidata a vice-prefeita, Tábata Amaral (PSB) chamou a atenção para o fato de sua chapa ser 100% feminina. Lúcia, por sua vez, afirmou que, juntas, elas vão "consertar os erros dos homens". O apelo ao feminismo, no entanto, não gerou qualquer engajamento nos mais de 80 mil grupos públicos de WhatsApp que a Palver acompanha. Entre os dias 3 e 7 de agosto, o sistema não identificou nenhuma mensagem sequer debatendo (para bem ou para mal) nesse app o gênero das candidatas.
Nota da autora
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Um abraço carinhoso!Cris Tardáguila
Fundadora e repórter da Lupap.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
Metodologia de trabalho utilizada nesta edição
Termos buscados: "Guilherme Boulos" OR Boulos OR Datena OR "Ricardo Nunes" OR "Tabata Amaral" OR Tabata OR "Kim Kataguiri" OR Kim OR kataguiri OR "Maria Helena" OR "Abraham Weintraub" OR Weintraub OR "Altino Prazeres" OR Altino OR "Pablo Marçal" OR Marçal OR "Ricardo Senese" OR "Fernando Fantauzzi" OR "João Pimenta" OR prefeito OR prefeitura OR Natuza OR nazifascismo OR "Lúcia França" OR "vice"
Período: 4 a 7 de agosto de 2024
Recorte geográfico: Brasil
Recorte idioma: português
Plataformas observadas: WhatsApp, Telegram.
Ferramentas de apuração: Palver
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Obrigada por ler a Ebulição!