🔥SP: Por voto de judeus, vídeo mente sobre Boulos
#24: Do outro lado, Nunes é associado à maçonaria, em tática que manipula emoções dos eleitores
Em apenas 48 horas, entre terça e quarta-feira desta semana, mais de 2 milhões de usuários do Telegram foram alvo de um vídeo que tenta ligar o candidato à prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) ao grupo terrorista palestino Hamas. Com menos de um minuto de duração, a gravação que chamou a atenção em meio às mensagens mais virais dos últimos dias na Palver ainda sugere que Boulos é antissemita — ou seja, discrimina judeus.
A poucos dias do segundo turno das eleições deste ano, o conteúdo explora o fato de que cerca de 80% da população judaica brasileira, estimada em 120 mil pessoas pela Confederação Israelita do Brasil (Conib), vive em São Paulo. A estratégia de inserir o conflito no Oriente Médio no debate político-eleitoral paulistano se conecta com a já conhecida tática de usar as emoções para manipular eleitores e, em consequência, tentar influenciar em seus votos.
Na sequência de clipes e fotos reunidas no vídeo há conteúdos que já foram checados e desmentidos pela Lupa. Nos primeiros dez segundos da gravação, por exemplo, o material exibe duas imagens de um homem que supostamente seria membro do Hamas. A Lupa analisou as mesmas fotografias e identificou que se trata do brasileiro de ascendência libanesa Mohamad El-Kadri, presidente do Fórum Latino Palestino e que não tem contra si qualquer acusação de associação com grupos terroristas. Procurado pela Lupa, El-Kadri informou, pelo WhatsApp, que virou alvo de ataque em redes sociais por ser um ativista da causa palestina e por presidir uma entidade ligada ao tema.
Depois, o vídeo traz imagens de Boulos usando o keffiyeh (ou hatta) palestino, lenço xadrez preto e branco historicamente usado por comunidades nômades — ou beduínos —, que se tornou símbolo da comunidade no último século. O keffiyeh, porém, não é um ícone do terrorismo palestino.
Por fim, a gravação mostra uma série de tuítes feitos pela Federação Árabe-Palestina criticando o atual conflito bélico na Faixa de Gaza. A conexão com Boulos se resume a uma cena na qual o político cumprimenta o homem que parece ser um dos diretores dessa entidade.
Em janeiro, a Lupa e vários outros checadores do Brasil alertaram para a circulação de uma foto de Boulos ao lado de um homem que não era membro do Hamas — mas um de seus correligionários no PSOL. Mas o que Boulos realmente diz sobre o grupo terrorista palestino? Em 14 de agosto, o jornal O Estado de S.Paulo fez um compilado de suas falas.
Em 10 de outubro de 2023, como deputado federal, o psolista se solidarizou com as famílias vítimas dos ataques terroristas de 7 de outubro em Israel, afirmando que “nada justifica o assassinato de civis inocentes” e que o Hamas “não representa o povo palestino”. Na época, Boulos também classificou o governo israelense de Benjamin Netanyahu como sendo de extrema direita.
Em 19 de fevereiro deste ano, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparar a situação de Gaza ao Holocausto, Boulos condenou o terrorismo e pediu a libertação dos reféns israelenses, voltando a criticar as ações do exército de Israel sob Netanyahu.
Até o fechamento desta edição da 🔥Ebulição (a última em período eleitoral), o vídeo conectando Boulos ao Hamas havia migrado do Telegram para pelo menos um grupo público de WhatsApp que reúne mais de 900 pessoas.
E mais…
O prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB) também é vítima de um vídeo que busca mexer com medos e emoções. Nos últimos três dias, uma gravação afirmando que ele é maçom, exibindo trechos de uma festa da entidade, impactou pelo menos dez grupos de WhatsApp com mais de 4 mil membros. Não é a primeira vez que esse tipo de associação é feita com o candidato. Falamos sobre isso na 🔥Ebulição há poucas semanas. Essa conexão tem sido disseminada por fãs de Pablo Marçal (PRTB), eliminado no primeiro turno. A maçonaria, instituição progressista que se dedica a causas filosóficas e filantrópicas, não tem qualquer conexão com bruxaria ou práticas obscuras. Na lista de maçons famosos estão, por exemplo, D. Pedro I, Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto, Prudente de Morais, Campos Salles, Rodrigues Alves, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Wenceslau Braz, Washington Luiz, Rui Barbosa e muitos outros políticos de alto escalão.
Nota da autora
Oi, gente! Esta é a última edição da 🔥Ebulição SP em seu formato eleitoral. Gostaria muito de saber o que acharam dela. Sou toda ouvidos! Escreva para cris@lupa.news.Abraços,
Cris Tardáguila
Fundadora e repórter da Lupa
Metodologia desta edição
Termos buscados: "Guilherme Boulos" OR Boulos OR "Ricardo Nunes" OR Israel OR Hamas OR judeus OR judaica OR maçom OR maçonaria
Período: 20 de outubro a 23 outubro de 2024
Recorte geográfico: Brasil, SP
Recorte idioma: português
Plataformas observadas: WhatsApp e Telegram
Ferramentas de apuração: Palver.