🔥SP: Para fãs de Marçal, culpa é da maçonaria
#19: Teoria da conspiração sugere que maçons fraudaram urnas em favor de Nunes; o fracassado boicote ao PSD
Nota: Tendo em vista que a eleição no Rio chegou ao fim, que outra cidade (além de São Paulo) você gostaria que acompanhássemos? Vote aqui.
Os fact-checkers do mundo costumam repetir que, de uns tempos para cá, ninguém mais perde eleição – é derrotado por uma força maior que "domina o sistema". Em alguns países, a culpa do fracasso eleitoral recai sobre o sistema de votação. Em outros, sobre o processo de apuração dos votos. Fato é que anda cada vez mais escassa a figura do político e dos militantes que reconhecem com humildade que simplesmente não foram capazes de obter o número de votos necessários para ser eleito ou passar para um segundo turno. Em São Paulo, fora Datena, não deu outra.
Dados da Palver mostram que a culpa por Pablo Marçal (PRTB) não estar mais na disputa eleitoral pela prefeitura da capital paulista parece estar recaindo na maçonaria e num imaginário poder que esse grupo teria sobre as urnas eletrônicas. Em menos de um dia, 19 mensagens únicas sobre o tema impactaram ao menos 12 mil pessoas em 11 grupos públicos de WhatsApp e Telegram que debatem política de São Paulo. É quase uma mensagem única por hora. Dois exemplos:
No alvo da conspiração imaginada por seguidores de Marçal está o prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB). Ele não só seria maçom (o que é possível já que foi visto nos cem anos da loja Grande Oriente de São Paulo), mas também estaria usando dessa força para se manter no poder – o que não se sustenta em dados comprováveis.
No conteúdo sobre maçonaria que mais viralizou no dia seguinte ao primeiro turno das eleições municipais deste ano em São Paulo, um homem aparece diante de um computador fazendo buscas frenéticas. Primeiro, ele digita: "[Jair] Bolsonaro apoia quem nas eleições de São Paulo?". O computador mostra-lhe um vídeo em que o ex-presidente declara apoio a Nunes. Em seguida, o homem faz buscas pelo nome "Ricardo Nunes" e vê na tela uma série de fotografias do hoje prefeito-candidato com líderes políticos de diversos partidos: da petista Marta Suplicy ao tucano João Doria.
Aparentando um crescente nervosismo, o homem então se centra na foto de um aperto de mão entre Nunes e o ex-presidente Michel Temer e dá zoom na imagem, como se ali revelasse um código secreto usado entre maçons para se cumprimentar. Por fim, já meio suado, o homem busca saber "quem é o maior maçom do Brasil?", e a máquina responde: "Michel Temer".
No encerramento do vídeo, muito bem produzido, o eleitor vê uma série de fotografias de Nunes no que seriam lojas maçônicas ou ao lado de grandes mestres da maçonaria. Não há sinais de que as fotos sejam falsas, mas elas também não servem de prova de que Nunes esteja sendo catapultado pela maçonaria, muito menos que essa irmandade tenha tido qualquer ingerência sobre as urnas eletrônicas.
Nas redes sociais abertas, o assunto também reverberou. Apesar de bloqueado no Brasil, o X reuniu dezenas de postagens associando Nunes à maçonaria e a uma possível fraude eleitoral.
Ao que tudo indica, essa narrativa conspiratória pode ter começado no Facebook. Ferramentas de monitoramento dessa rede social mostram que associações entre Nunes e o poder oculto dos maçons já estavam no ar desde o fim de setembro. Num dos posts mais compartilhados, questiona-se se o prefeito-candidato foi a alguma igreja, ressaltando que ele esteve numa loja maçônica. A foto que acompanha a postagem, no entanto, está no ar desde, pelo menos, 2021 – ou seja, não tem qualquer relação com a campanha política atual.
Nas eleições de 2022, tanto Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quanto Jair Bolsonaro (PL) foram falsamente envolvidos em teorias da conspiração que falavam de maçonaria e "satanismo". Releia algumas checagens daquela época aqui, aqui e aqui.
E mais…
Deu em água a campanha digital encampada pelos deputados Nikolas Ferreira e Gustavo Gayer, ambos do PL, para pedir que os eleitores boicotassem os candidatos do PSD como forma de pressionar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a mover o processo de impeachment contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. A legenda saiu do primeiro turno com 878 prefeituras, tendo desbancado MDB e PP. Gilberto Kassab, presidente do PSD, já tem planos para 2026.
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Nota da autora
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Boa semana!
Cris Tardáguila
Fundadora e repórter da Lupap.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
Metodologia desta edição
Termos buscados: "Guilherme Boulos" OR Boulos OR "Ricardo Nunes" OR maçom OR maçonaria
Período: 6 de outubro a 7 outubro de 2024
Recorte geográfico: Brasil
Recorte idioma: português
Plataformas observadas: WhatsApp, Telegram, Facebook e X (a partir de acesso nos EUA)
Ferramentas de apuração: Palver,
sistema de buscas das plataformas abertas.
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