🔥SP: O tamanho e o legado da 'cadeirada'

#18: Para cada cem mensagens mencionando ao menos um candidato a prefeito, 17 falaram da agressão

Nota: o time da 🔥Ebulição vai acompanhar o que ferve nos apps de mensagem durante o fim de semana do 1º turno. Acompanhe as redes sociais da Lupa para assistir aos vídeos com informações atualizadas.

Se há uma certeza sobre a campanha eleitoral que está prestes a terminar, é a de que, em São Paulo, a grande protagonista dos últimos 49 dias foi… uma cadeira – a que José Luiz Datena (PSDB) lançou contra Pablo Marçal (PRTB) durante um debate promovido pela TV Cultura.

Segundo dados da Palver, ferramenta que monitora mais de 80 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram do país e que permitiu ao time da 🔥Ebulição acompanhar de perto as conversas travadas nesses espaços digitais, a "cadeirada" não foi só o assunto mais comentado da campanha paulista como também impactou todo o Brasil. Como mostra o mapa abaixo, apenas dois DDDs – um no Paraná e outro no Espírito Santo – não contribuíram com postagens sobre o violento episódio em conversas de WhatsApp. Todos os demais disseminaram textos, fotos ou vídeos relacionados ao assunto desde 15 de setembro.

Mapa mostra a incidência de mensagens disparadas sobre a "cadeirada" a partir dos DDDs registrados no país. Em branco, as áreas de onde não partiram mensagens.

O mais surpreendente, no entanto, é comparar o volume de mensagens sobre os candidatos em disputa com o número de conteúdos que se disseminaram nos apps fazendo referência ao ataque de Datena a Marçal.

Desde o minuto em que a cadeira foi usada na agressão nos estúdios da TV Cultura até a noite da última quarta-feira (2), uma média de mil mensagens únicas aterrissou todos os dias em grupos públicos de WhatsApp e Telegram do país citando nominalmente ao menos um dos políticos em disputa. No mesmo período, a média diária de mensagens únicas mencionando o termo "cadeirada" foi de 175. Ou seja, para cada cem comentários novinhos em folha sobre aqueles que deveriam ser os verdadeiros protagonistas da campanha, outros 17 eram feitos sobre a violenta cena.

O gráfico abaixo, também gerado pela Palver, deixa evidente que a "cadeirada" foi um ponto fora da curva neste primeiro turno. Ao menos 1,1 milhão de pessoas foram impactadas por mensagens de WhatsApp e Telegram que comentavam esse episódio desde 15 de setembro.

Menções aos candidatos de São Paulo em grupos públicos de Whatsapp e Telegram

Menções ao termo 'cadeirada' em grupos públicos de Whatsapp e Telegram

Além de ter sido assunto nacional e constante nos aplicativos de mensagem, a "cadeirada" também passou a ser usada de forma jocosa para se referir a outras brigas e a outros momentos de tensão – algo semelhante ao que ocorreu com a expressão "7 a 1", após a derrota da seleção brasileira de futebol para a Alemanha na Copa de 2014.

Entre os conteúdos mais virais que citam a "cadeirada" de Datena está, por exemplo, uma angustiante briga de rua entre duas pessoas e uma gravação na qual o pugilista Popó avança sobre um rival argentino. O primeiro conteúdo viraliza com a legenda "Pior que a cadeirada que o Pablo Marçal levou...". O segundo, com "Popó revida com cadeirada! O Datena tá fazendo escola!".

A transformação do episódio em meme é um sinal da banalização da agressividade nesta campanha. Esse é um dos fatores a se levar em conta ao interpretar a negatividade expressa nas mensagens coletadas pela Palver ao longo do primeiro turno. As imagens abaixo mostram como foram residuais os conteúdos monitorados pela plataforma e classificados (de forma automatizada) como "positivos".

Análise de sentimento - WhatsApp

Análise de sentimento - Telegram

(Nota: A etiqueta 'not applicable' é usada para indicar conteúdos que não puderam ser analisados a partir do sistema de processamento de linguagem natural, como é o caso de fotografias e imagens.)

Levantamento do Observatório da Violência Política e Eleitoral (OVPE), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), registrou 455 casos de violência contra lideranças políticas no Brasil entre janeiro e 16 de setembro deste ano. Só entre julho e meados de setembro, foram 15 homicídios.

No Rio de Janeiro, há poucos dias, um dos candidatos a prefeito foi recebido numa universidade particular por jovens que levantavam cadeiras de plástico para o ar, numa referência explícita ao ato de Datena. Numa mistura de irreverência com ameaça, o grupo buscava atrapalhar ou mesmo impedir a fala do candidato.

Bom voto no domingo! Teremos novidades durante nosso plantão. Fique de olho :)

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Nota da autora
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Cris Tardáguila  

Fundadora e repórter da Lupa

p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.

Metodologia desta edição 
Termos buscados: "Guilherme Boulos" OR Boulos OR Datena OR "Ricardo Nunes" OR "Tabata Amaral" OR Tabata OR "Marina Helena" OR "Altino Prazeres" OR Altino OR "Pablo Marçal" OR Marçal OR "Ricardo Senese" OR "João Pimenta" OR "Bebeto Haddad" OR "cadeirada"
Período: 16 de agosto a 2 de outubro de 2024
Recorte geográfico: Brasil
Recorte idioma: português
Plataformas observadas: WhatsApp e Telegram
Ferramentas de apuração: Palver

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