🔥Rio: Sem propostas, polarização dá o tom
#13: Candidatos apostam em associações com Lula e Bolsonaro; Jojo Toddynho tem lado na política
Faz exatamente um mês que a campanha eleitoral começou em todo o país, mas o eleitor carioca que se informa por WhatsApp e Telegram ainda não sabe dizer o que cada um dos candidatos a prefeito do Rio de Janeiro pretende fazer se for eleito em outubro. Nos últimos 30 dias, em vez de usar esses espaços para espalhar ideias e projetos, as campanhas e suas militâncias têm investido pesado na (velha) troca de acusações que opõe lulistas e bolsonaristas e alimenta o ódio e a polarização que há anos permeiam o debate político.
Dados da Palver, que monitora mais de 80 mil grupos públicos de WhatsApp e Telegram em todo o país, mostram que, na última semana, só 11 mensagens tinham os termos "proposta" ou "projeto" associados ao nome de pelo menos um dos candidatos no Rio. Nenhuma delas tratava de uma proposta concreta de Eduardo Paes (PSD), Delegado Ramagem (PL), Tarcísio Motta (PSOL) ou Rodrigo Amorim (União Brasil). As mensagens apenas resumiam as principais notícias do dia sobre um (ou mais) dos políticos em campanha para, depois — de forma desconectada — citar as palavras projeto ou proposta em outro contexto. Veja aqui um exemplo.
O que sim é farto nos apps de mensagem são os conteúdos que tentam convencer os eleitores cariocas de que os candidatos são marionetes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou do ex-presidente Jair Bolsonaro. Peças de propaganda amplificam a tática da falsa dicotomia e nutrem o paradoxo do "nós contra eles".
Entre os dias 8 e 15 de setembro, o conteúdo que mais viralizou no Whatsapp citando Ramagem é um exemplo. Trata-se de um vídeo feito por um vereador do PL que busca a reeleição e que levou a seta dupla da Meta (dona do WhatsApp) por ter sido altamente viral na plataforma.
Com dois minutos e meio de duração, a gravação começa com o vereador dizendo que tem orgulho de apoiar Ramagem porque ele foi escolhido por Bolsonaro para representar o PL nas urnas. Depois, o vereador afirma que Paes "é o candidato do Lula" e alerta: o eleitor que votar pela reeleição dele tem que saber que levará o "combo Eduardo Paes", incluindo políticos do PC do B, como Jandira Feghali, do PT, como Marcelo Freixo e do PSB, como Alessandro Molon. A gravação tem uma trilha sonora de filme de terror.
O tom é o mesmo do outro lado. Aposta-se em classificar Ramagem como bandido, criminoso e antidemocrático. Desde a segunda-feira da semana passada (9), conforme contamos aqui na Ebulição, viraliza entre os apoiadores de Paes um vídeo dele ao lado de Freixo, no qual a dupla aparece dizendo que luta junta para, "no campo democrático, enfrentar essa gente que odeia democracia, que odeia gente mais pobre e que odeia o diferente".
Investir nesse tipo de linguagem é ignorar que, em política, não há preto no branco, mas sim diversos tons de cinza. É estar cego às parcerias que são feitas e desfeitas e alimentar a fúria entre campos de pensamento que se opõem, mas não precisam eliminar um ao outro. A violência política se alimenta disso.
Se você está interessado nas propostas dos políticos que pretendem administrar o Rio, pode acessar o Divulgacand 2024, do Tribunal Superior Eleitoral. Lá, os nove candidatos registraram suas plataformas de governo. Procure a aba "propostas".
E mais
A cantora Jojo Toddynho, conhecida pelo hit "Que tiro foi esse", bombou nos aplicativos de mensagem durante o fim de semana por ter se posicionado politicamente ("sou preta e de direita"). Na sexta-feira (13), ela esteve em um evento de campanha do Delegado Ramagem (PL) e tirou fotos com a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro. Diante das críticas que recebeu, foi às redes sociais dizer que será candidata em 2026 e pediu voto para seu pai, que está em campanha para vereador. Dados da Palver mostram que pelo menos 1 milhão de pessoas foram impactadas por mensagens sobre Jojo em 29 canais públicos de Telegram e 82 grupos públicos de WhatsApp. Em São Paulo, artistas também já se posicionaram politicamente.
A 🔥Ebulição também circula em formato de vídeo, sempre aos fins de semana. Clique aqui e veja o último resumo semanal feito por Nycolle Moraes, assistente de Conteúdo de Audiência e Engajamento da Lupa.
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Nota da autora
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Um abraço carinhoso!Cris Tardáguila
Fundadora e repórter da Lupa
p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
Metodologia desta edição
Termos buscados: "Alexandre Ramagem" OR "Cyro Garcia" OR "Carol Sponza" OR sponza OR "Eduardo Paes" OR "Juliete Pantoja" OR "Henrique Simonard" OR Simonard OR "Marcelo Queiroz" OR "Otoni de Paula" OR "Pedro Duarte" OR "Rodrigo Amorim" OR "Tarcísio Motta" OR Paes OR Ramagem OR "rio de janeiro" OR prefeito OR prefeitura OR projeto OR proposta OR propõe OR jojo
Período: 8 a 15 de setembro de 2024
Recorte geográfico: Brasil
Recorte idioma: português
Plataformas observadas: WhatsApp e Telegram
Ferramenta de apuração: Palver
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