🔥‘PapaBet’: o bolão dos cardeais
Futuro da Igreja Católica é tema de apostas, mentiras e conspirações nos apps do Brasil
🗞️ O que está acontecendo?
Desde segunda-feira (21), quando o mundo soube da morte do Papa Francisco, grupos públicos de WhatsApp e Telegram do Brasil estão em ebulição tentando prever não só o nome do próximo Pontífice mas também os rumos da Igreja Católica. Não é para menos. Dados do Vaticano mostram que o Brasil tem mais de 180 milhões de habitantes que professam a fé católica, o que representa 13% do total mundial. A bolsa de apostas sobre o novo líder do Vaticano está, portanto, a mil por hora no país.
Segundo dados da Palver, que monitora 100 mil grupos públicos criados nesses dois aplicativos, nada menos do que seis cardeais (de cinco países) têm sido nominalmente citados em mensagens que podem ter alcançado quase meio milhão de pessoas nas últimas 72 horas. São eles: Luis Antonio Tagle (Filipinas), Pietro Parolin (Itália), Peter Turkson (Ghana), Péter Erdő (Hungria), Angelo Scola (Itália) e Jean-Marc Aveline (França).
Seus nomes aparecem entre dezenas de links noticiosos, rebuscadas análises e até mesmo teorias da conspiração com tons apocalípticos. Mas os dois que mais se destacam no imaginário digital brasileiro são Parolin e Tagle. O italiano aparece em 32 mensagens únicas disparadas nos apps desde segunda, e o filipino, em 17.
Mas a confirmação do novo Papa (obviamente) não passa pelo zap. Pelas regras atuais do Vaticano, o conclave deve começar entre 15 e 20 dias após a morte do Pontífice. Sendo assim, a votação secreta só tende a começar entre os dias 6 e 11 de maio — e não tem prazo para terminar. Resultado: as fofocas (e as fakes) religiosas tendem a crescer.
📊 O contexto importa
Ao contrário do que acontece na política (e em corridas eleitorais travadas em países democráticos), as campanhas para se tornar Papa se dão de forma discretíssima e começam muito antes da eleição propriamente dita.
Cardeais interessados costumam se engajar em atividades que os tornam mais visíveis ao longo de suas carreiras de forma a terem mais chances de levar votos na Capela Sistina. Isso inclui participar de sínodos, dar palestras, publicar textos e manter diálogo constante com outros membros da Igreja. Nesse quesito, o cardeal Scola, hoje na lista dos cotados para substituir Francisco, é um exemplo. Em 2004, ele lançou uma rede de diálogo cristão-muçulmano conhecida como “Oasis” e ficou internacionalmente conhecido, contam sites religiosos.
Quando um Papa morre (ou renuncia), começam então as chamadas reuniões pré-conclave. Nesses encontros, os cardeais buscam chegar a um consenso sobre quais deles são realmente “papáveis” e quais devem atuar apenas como organizadores da eleição ou cabos eleitorais. Esses movimentos também são sempre discretos e altamente sigilosos.
Mas o conclave deste ano será o primeiro em tempos de enorme uso de redes sociais e aplicativos de mensagem. Em 2013, quando o argentino Jorge Mario Bergoglio foi eleito Papa, as redes sociais já existiam, mas ainda engatinhavam. O Facebook, por exemplo, tinha nove anos de vida e cerca de 700 milhões de usuários ativos todos os dias. Hoje esse número é pelo menos três vezes maior, e o Facebook não está sozinho nesse barco. Vai ser interessante, portanto, acompanhar eventuais movimentos digitais dos cabos eleitorais antes de os cardeais se isolarem para a esperada votação.
🎥 O que viralizou:
Uma análise das 51 mensagens únicas que viralizaram pelo Brasil mencionando os cardeais cotados para virar Papa desde segunda-feira revela um interesse especial por Luis Antonio Tagle, frequentemente referido como o “Francisco asiático”. A alcunha, que apareceu em diversas postagens, indica que muitos fiéis brasileiros veem no cardeal filipino uma continuidade à linha pastoral progressista adotada por Francisco.
Pietro Parolin, atual secretário de Estado do Vaticano, também ganhou destaque. Descrito como o “número 2 de Francisco”, Parolin é citado em grupos públicos de WhatsApp e Telegram como um nome forte nos bastidores. Embora visto com certa reserva por não carregar o mesmo carisma popular de outros postulantes, sua imagem está ligada à estabilidade institucional e à diplomacia vaticana. Seria uma espécie de “opção segura” para a Igreja Católica.
Os cardeais Peter Turkson, Péter Erdő, Angelo Scola e Jean-Marc Aveline também aparecem nas conversas, mas de forma mais tímida. Entram em listas de favoritos ou em análises reproduzidas a partir de portais de notícias internacionais. Turkson, de origem ganesa, é citado por representar a possibilidade de um pontífice africano (e negro). Erdő é lembrado como a voz do conservadorismo europeu. Scola e Aveline aparecem como apostas discretas da Europa, sem provocar grandes ondas de reação.
💬 Por que isso importa?
É relevante saber que o tom geral das conversas de WhatsApp e Telegram sobre o futuro Papa varia entre análises sérias, escritas por fontes confiáveis (em Roma ou no Vaticano), e o sensacionalismo. Em grupos de Telegram, por exemplo, viralizam teorias da conspiração (sem qualquer prova) de que o presidente Donald Trump já estaria agindo para fazer do cardeal Raymond Burke, dos Estados Unidos, o novo Pontífice.
Também há grupos dispostos a amplificar a notícia de que o cardeal italiano Angelo Becciu, afastado da Igreja Católica em 2020 e condenado por fraude na compra de um edifício de luxo três anos depois, veio a público dizer que estará no Conclave por bem ou por mal.
Por fim, há quem acredite — e dissemine — a ideia de que alguns cardeais estão alinhados ao globalismo ou ao comunismo, dispostos a agir contra a Igreja. Fique, portanto, de olho em informações que misturam política e religião.
E mais…
Grupos públicos de WhatsApp e Telegram ligados ao movimento antidemocrático que questiona a legitimidade das urnas eletrônicas estão espalhando piadas e montagens sobre a escolha do novo Papa. Várias mensagens divulgadas nesta semana nesses espaços digitais sugerem que, caso os cardeais utilizem as urnas eletrônicas brasileiras na Capela Sistina, o eleito será o presidente Lula ou o ministro do STF Alexandre de Moraes. É importante ficar atento a montagens feitas com as fotos dos dois — e à tentativa de camuflar narrativas antidemocráticas sob o tom de humor.
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Metodologia desta edição
Query 1: "Luis Antonio Tagle" OR tagle OR "Pietro Parolin" OR parolin OR "Peter Turkson" OR turkson OR "Péter Erdő" OR erdo OR "Angelo Scola" OR scola OR "Jean-Marc Aveline" OR aveline
Query 2: becciu
Query 3: Tagle
Query 4: Parolin
Query 5: papa AND trump
Período: 21 a 23 de abril de 2025
Recorte idiomas: Português
Plataformas observadas: Grupos públicos de WhatsApp e Telegram
Ferramentas de apuração: Palver.com.br
p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
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Obrigada por ler a 🔥Ebulição!