🔥Michelle aciona mulheres do PL
Cresce o apoio digital à ex-primeira-dama, que mira a eleição com foco nas mulheres
Por conta do Global Fact, maior conferência de fact-checkers do mundo, que, neste ano, acontece no Rio de Janeiro (Participe!), esta será a única edição da 🔥Ebulição nesta semana. Mesmo assim contamos com sua colaboração. Indique nossa newsletter para amigos e familiares. Apoie nosso trabalho.
🗞️ O que está acontecendo?
Apontada como possível candidata da direita nas eleições presidenciais do ano que vem, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro intensificou nas últimas semanas sua articulação política, participando de encontros informais — mas sistemáticos — com as deputadas do PL. Michelle tenta se consolidar como nome forte entre as mulheres de seu partido e, em consequência, tê-las como cabo eleitoral. Resultado: ao menos nos grupos públicos de WhatsApp e Telegram, já tem deputada bradando alto em favor de Michelle.
Desde a última terça-feira (17), trechos de uma entrevista que a deputada Caroline De Toni (PL-SC) deu à GloboNews defendendo abertamente a candidatura de Michelle e exaltando sua atuação à frente do programa Pátria Voluntária viralizaram nas duas plataformas de mensagem.
Dados da Palver indicam que os elogios feitos por De Toni — seguidos de críticas expressas à atual primeira-dama, Janja da Silva, já podem ter alcançado mais de 20 mil usuários. E muitos desses cortes de vídeo vêm acompanhados de legendas que classificam a fala da parlamentar como “satisfatória e irrefutável”.
📊 O contexto importa:
Na última semana de maio, uma pesquisa feita pela AtlasIntel em parceria com a Bloomberg mostrou que, ao contrário do marido, Michelle Bolsonaro teria uma vantagem e poderia vencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um possível segundo turno, se as eleições fossem agora. Ela teria 49,8% dos votos, e Lula, 45,3%, o que fez dela um nome de destaque nos bastidores do bolsonarismo.
Também se sabe que a articulação dos parlamentares (tanto nas tribunas quanto nas redes sociais) tem sido peça-chave da estratégia eleitoral da direita desde 2018. Mas, ao que tudo indica, tanto Carla Zambelli (PL-SP) quanto Eduardo Bolsonaro (PL-SP), dois nomes de peso nesse campo, não devem ser figuras centrais na corrida presidencial. Zambelli está foragida na Itália. Eduardo se mudou para os Estados Unidos. Michelle (ou seus assessores) parecem ter antevisto a situação e se antenado para a importância de conhecer bem e ser defendida publicamente por nomes como Caroline De Toni, Bia Kicis (PL-DF), Soraya Santos (PL-RJ), Coronel Fernanda (PL-MT), Daniela Reinehr (PL-SC), Rosângela Reis (PL-MG), Silvia Waiãpi (PL-AP) e a senadora Dra. Eudócia (PL-AL).
🎥 O que viralizou:
Nos cortes extraídos da entrevista da GloboNews, que chegaram a pelo menos 15 estados (veja mapa abaixo), De Toni faz uma oposição contundente (e bem articulada) à também deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), colocada como defensora do governo Lula.
Ao ser perguntada sobre o que qualificaria Michelle para ser uma presidenciável, a parlamentar mostra um calhamaço que, segundo ela, traria dados do impacto do programa Pátria Voluntária, liderado pela ex-primeira-dama no governo anterior. De Toni diz que 4 milhões de pessoas foram atendidas graças a Michelle, que 10 milhões de reais de dinheiro privado foram destinados a pessoas carentes, e mais de 20 mil toneladas de alimentos distribuídos.
Não entra no corte que viralizou nos apps a informação de que, em 2023, o Tribunal de Contas da União (TCU) identificou irregularidades no extinto programa, coordenado pela Casa Civil de Bolsonaro. Uma auditoria feita pelo órgão revelou ausência de previsão constitucional e legal para o modelo de captação e gestão de recursos privados do programa, além da falta de critérios objetivos na seleção das instituições beneficiadas e da transparência nos resultados das avaliações.
Numa segunda parte do programa, que também viralizou nos grupos de WhatsApp e Telegram, De Toni diz que, ao contrário da atual primeira-dama, Janja da Silva, que teria gastado milhões de reais em móveis e objetos para o Palácio da Alvorada, Michelle teria sempre usado o espaço para receber pessoas carentes.
Na primeira semana do atual governo, Janja abriu a moradia oficial da presidência a jornalistas e mostrou infiltrações, janelas quebradas e casos de má-conservação do patrimônio. Entre os problemas identificados pela gestão Lula, estava o suposto desaparecimento de algumas peças do mobiliário. Michelle e Jair processaram o governo, depois que as peças foram encontradas, e aguardam uma indenização de 15 mil reais por danos morais. De Toni não mencionou o episódio abertamente, mas parecia tê-lo em mente.
E, nessa toada, a deputada terminou acusando Lula de ser fraco. De só fazer as vontades de Janja e de não ser “o pai dos pobres” que afirma ser. Ou seja, após levantar a bola de Michelle duas vezes em gravações de pouco mais de um minuto, De Toni arrematou atacando aquele que seria o principal adversário na corrida eleitoral da direita no próximo ano, parecendo muito bem azeitada com o projeto Michelle 2026. Vale ficar de olho.
🚨 O que dizem as checagens?
A popularização do nome de Michelle também vem com pontos negativos: cresce o número de notícias falsas envolvendo a ex-primeira-dama. Desde abril, ao menos dez publicações foram feitas pelos fact-checkers do Brasil mencionando a possível presidenciável.
Não é verdade que Michelle Bolsonaro foi presa ou que divulgou plataforma de investimento em criptomoedas. Também não é fato que uma empresa suspeita de pagar o cartão de crédito da ex-primeira-dama foi citada em fraude do INSS. Por fim, é falso que Michelle e o presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, tenham falado por telefone sobre a saúde de Jair. Esta é outra mentira que circulou recentemente sobre a possível candidata do PL para 2026.
💬 Por que isso importa?
Ao menos três fatores devem ser considerados aqui. O primeiro (e mais óbvio) é que Michelle deixou claramente de ser apenas mais um nome ventilado nos bastidores da campanha de 2026. Ela se posiciona, se articula e parece ter estratégia para usar as redes sociais (com cabos eleitorais femininos).
O crescimento do número de conteúdos mencionando Michelle — até mesmo de notícias falsas — é um indicativo claro de que a pré-campanha já está, na prática, em andamento. Não vale tapar o sol com a peneira.
Depois, é importante lembrar que, historicamente, as mulheres compõem a maioria do eleitorado. Em 2022, elas respondiam por quase 53% dos eleitores, pareciam preocupadas com economia e saúde e sugeriam uma maior volatilidade na intenção de voto.
Em 2025, o voto feminino faz 93 anos e vai se consolidando como decisivo. Saber jogar com esse campo pode ser chave para o ano que vem.
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E mais…
Mais de 218 mil usuários de WhatsApp e Telegram podem ter sido impactados no fim de semana por um vídeo que tenta convencer os brasileiros de que a “Abin paralela”, identificada pela Polícia Federal em meio às investigações sobre o 8 de janeiro, não passa de uma tentativa do governo federal, supostamente aliado com a mídia, para desviar o foco dos problemas econômicos do país. Na gravação, um homem mostra uma série de manchetes de jornal sobre a espionagem ilegal de dezenas de pessoas e organizações (entre elas a Lupa) para sustentar sua teoria da conspiração. Para o narrador, o brasileiro deveria prestar atenção na taxa de juros e na Selic. O episódio serve como um ótimo exemplo de uma das táticas de inoculação mais utilizadas por desinformadores: a distração (ou ‘whataboutism'). Leia mais sobre isso aqui.
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Metodologia desta edição
Query 1: michele OR michelle
Query 2: "aliança global contra a fome"
Query 3: “abin” OR “abin paralela”
Período: 17 a 24 de junho de 2025
Recorte idiomas: Português
Plataformas observadas: Grupos públicos de WhatsApp e Telegram
Ferramentas de apuração: Palver.com.br
p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
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Obrigada por ler a 🔥Ebulição!