🔥Janja não tem folga no ‘zap’
Comparações com Rose Noronha e boatos sobre INSS alimentam fakes contra primeira-dama
🗞️ O que está acontecendo?
Se nos últimos dias você recebeu alguma mensagem no WhatsApp ou Telegram criticando a primeira-dama Janja da Silva, você não está sozinho(a). Dados da Palver mostram que, na última semana, ao menos duas narrativas – falsas, distorcidas ou sem comprovação – viralizaram de forma brutal por esses espaços digitais. Ambas tentam associá-la a escândalos de corrupção como maneira de afetar a credibilidade do presidente e do governo federal.
Os ataques, que já contaram até mesmo com o engajamento online do ex-presidente Jair Bolsonaro, levaram a Advocacia-Geral da União a acionar oficialmente as redes sociais abertas (não os apps) que atuam no país para que eles tentem conter a desinformação.
O problema é que o volume da conversa anti-Janja é bem grande neste momento. Até esta manhã de quinta-feira (15), postagens contra a primeira-dama acumulavam mais de 250 mil interações no Facebook, Instagram e X (ex-Twitter). No WhatsApp e Telegram, já haviam aterrissado em mais de 234 grupos públicos, atingindo 730 mil pessoas em todo o país (veja mapa a seguir). Trata-se, portanto, de uma avalanche de mensagens praticamente impossível de se conter.

📊 O contexto importa:
Casada com o presidente desde maio de 2022, Janja é alvo recorrente de ataques digitais desde pelo menos 2023, quando sua conta no X foi invadida por um adolescente de 17 anos. Mas a atual onda de críticas e desinformação contra ela se destaca por combinar dois elementos inusitados. O primeiro é o já conhecido questionamento de sua participação na comitiva das viagens oficiais de Lula. Janja já foi alvo de ataques quando foi ao Japão, França e Itália. Agora, com sua ida à Rússia e à China, as fakes ganham fôlego. O segundo ingrediente que se destaca é a tentativa de também vincular Janja a dois grandes escândalos políticos do país – um super atual e corrente e outro que já tem mais de doze anos.
Uma análise das mais de 905 mensagens únicas publicadas sobre Janja na última semana mostra que ela está sendo abertamente comparada a Rosemary Noronha, que foi assessora de Lula em São Paulo em 2013.
Naquele ano, Rose ganhou notoriedade após ser acusada de usar sua influência para conseguir se hospedar – de graça e durante uma viagem não oficial – na embaixada brasileira em Roma. Embora tenha negado qualquer ação ilegal (bem como qualquer envolvimento amoroso) com o presidente, Rose virou alvo da oposição na época. Foi investigada administrativamente por corrupção, tráfico de influência e enriquecimento ilícito, e acabou proibida de exercer cargos públicos por oito anos – punição encerrada em 2024.
Mas, além dessa linha de ataque, os opositores de Lula também tentam envolver Janja no escândalo recente do INSS. Centenas de mensagens analisadas pela Ebulição alegam, sem apresentar qualquer prova, que a primeira-dama teria viajado à Ásia para, na verdade, transportar malas de dinheiro – valores supostamente desviados de aposentados e pensionistas com a ajuda de sindicatos. Busca-se colar em Janja a imagem de figura central em esquemas de corrupção e de quebra afetar o presidente.
🎥 O que viralizou:
A história que ganhou mais tração nos apps nesta semana é a alegação de que Janja teria embarcado para Moscou antes do presidente (o que é a mais pura verdade) para “fazer turismo com o dinheiro do contribuinte brasileiro”.
Sabe-se, no entanto, que em sua visita à Rússia, Janja cumpriu uma agenda pública voltada à cultura, educação e cooperação internacional. Em Moscou, reuniu-se com professores e alunos de português, participou de um evento na Universidade HSE sobre a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e visitou locais históricos como o Teatro Bolshoi e o Kremlin. A convite do governo russo, foi a São Petersburgo, onde se encontrou com estudantes universitários e assistiu ao balé “Lago dos Cisnes”. Em 8 de maio, quando Lula chegou à Rússia, Janja passou a acompanhá-lo em todos os compromissos oficiais, mas as mensagens que circulam preferem repetir que ela viajou para ver balé e que “esbanjou loucamente".
Tanto é que o vereador de Curitiba Guilherme Kilter (Novo) e o advogado Jeffrey Chiquini deram início a uma ação popular na Justiça Federal do Distrito Federal, contestando a legalidade e os custos da viagem da primeira-dama à Rússia. Pedem uma justificativa para o gasto e total transparência nas contas. Com isso, também vão se popularizando nas redes sociais e nos aplicativos de mensagem.
No ranking dos conteúdos mais virais, o segundo lugar ficou com a acusação de que a primeira-dama teria levado “200 malas” cheias de dinheiro à Rússia e de que teria sido flagrada pelas autoridades moscovitas sem ter qualquer explicação para aquele montante.
Essa falsidade – verificada por diversas unidades de fact-checking do país nas últimas horas – se associa de forma colateral à informação (verdadeira) de que Letônia, Estônia e Lituânia não deixaram que o avião de Janja cruzasse seus espaços aéreos rumo a Moscou.
Aqui, os detratores da primeira-dama sugerem alguma ilegalidade, fazendo questão de ignorar que essa posição dos países bálticos foi aplicada a todos chefes de estado e de governo que o Kremlin tinha convidado para ir a Moscou na semana passada. Tratava-se de uma forma de pressionar a Rússia a pôr fim à guerra com a Ucrânia.
💬 Por que isso importa?
A ofensiva digital contra a primeira-dama não é nova e não é apenas sobre Janja. Ela é sintoma de uma estratégia maior de deslegitimação do governo por meio da desinformação. Também não se pode negar um viés misógino. É preciso, portanto, ficar de olho não só nesses ataques, nas estratégias que eles usam e em quem eles miram, colocando todos os pingos nos is, mas também observar de perto a forma como o governo responde – se é que o fará. O movimento da AGU, de pedir às redes sociais que contenham os ataques à Janja, pode acabar sendo um tiro pela culatra. Além de ser provavelmente ineficiente em termos de percepção pública do papel de Janja, possíveis remoções de conteúdo costumam oxigenar indesejadas narrativas de censura.
E mais…
Vídeos que circulam no WhatsApp (5 mil pessoas impactadas pelo menos) afirmam que o Papa Leão 14 mencionou o ex-presidente Jair Bolsonaro em sua primeira homilia e que “o presidente caiu em lágrimas ao saber disso”. A informação, no entanto, é falsa. As gravações não exibem nenhum trecho da fala do Papa nem apresentam qualquer documento que comprove a citação. A narração em off apenas diz que Leão 14 teria orado por “líderes que, mesmo fora do altar, protegem os valores da fé”. A íntegra da homilia está disponível para consulta aqui e não contém qualquer menção a Bolsonaro.
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Metodologia desta edição
Query 1: janja
Query 2: janja AND malas
Query 3: janja AND (rose OR rosemary)
Período: 7 a 14 de maio de 2025
Recorte idiomas: Português
Plataformas observadas: Grupos públicos de WhatsApp e Telegram
Ferramentas de apuração: Palver.com.br
p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
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Obrigada por ler a 🔥Ebulição!