🔥 IOF: Haddad jogou gasolina no zap
Imposto virou combustível para desgaste político: mensagens sobre alta chegam a 2 milhões
🗞️ O que está acontecendo?
Desde sexta-feira (23), quando o governo federal elevou as alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) — em alguns casos de 1,1% para 3,5% do valor da transação — o tema bomba nos grupos públicos de WhatsApp e Telegram de todo o país.
Levantamento feito a partir de dados reunidos pela Palver mostra que mais de 1.400 mensagens únicas mencionando o termo “IOF” circularam nos últimos oito dias por pelo menos 240 canais, potencialmente alcançando mais de 2 milhões de usuários nas duas plataformas.
O tom das conversas é majoritariamente negativo. A análise de sentimento feita pela ferramenta de monitoramento de apps revela que, até a noite de ontem, o governo Lula enfrentava mais uma clara crise de imagem. Assim como aconteceu no início do ano com a onda de desinformação sobre uma suposta taxação do Pix, a medida sobre o IOF tem sido amplamente criticada — especialmente pelo impacto no bolso do cidadão.
Análise de sentimento das mais de 1,4 mil mensagens únicas que citam “IOF”. Em vermelho, os conteúdos negativos. Em verde, os positivos. Em laranja, os neutros. Em azul, os que ainda não foram classificados (ou não podem ser classificados) pelo sistema de inteligência artificial da Palver
O desgaste político atinge com mais força o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que teve altos índices de mensagens negativas ao classificar a decisão como “técnica” e dizer que ela tinha sido validada pelo próprio presidente antes de vir à tona (o que foi confirmado por Lula no fim de semana).
Legenda: Análise de sentimento das 232 mensagens únicas que citam “IOF” e “Haddad”.
Também vale ressaltar que, apesar de a reação nos apps ter sido nacional (conforme mostra o mapa a seguir), o maior volume de mensagens veio dos DDDs de São Paulo, o que indica um desgosto da elite econômica com o movimento tributário realizado pelo governo.
📊 O contexto importa:
Algumas emoções estão presentes no debate sobre a elevação das alíquotas de IOF. A primeira e mais óbvia é a insatisfação com os efeitos dessa ação em transações financeiras e câmbio. São diversas as mensagens que reclamam do aumento de impostos em transações internacionais e que citam nominalmente o prejuízo de plataformas financeiras como Wise e Nomad.
Há também certa frustração. Diversos usuários foram aos apps para questionar se essa nova medida tributária realmente beneficiará a população ou se é mais uma forma de o governo se sustentar à custa dos cidadãos.
Por fim há raiva — sobretudo em espaços ocupados pela extrema-direita. Nas discussões desse tipo, há certa indignação com ires e vires na política econômica (lembrando o caso Pix).
🎥 O que viralizou:
Ao menos quatro mensagens de WhatsApp — todas elas em formato de vídeo — ganharam o ícone de seta dupla da Meta nos últimos sete dias por terem sido encaminhadas com alta frequência dentro do aplicativo de mensagens. Em todas elas, o IOF é enquadrado como um instrumento de abuso do governo federal sobre os contribuintes e apresentado como uma forma de expropriação financeira imposta pelo governo Lula ao povo.
No vídeo mais compartilhado, o jornalista Alexandre Garcia diz que o governo arrecadará 20,5 bilhões de reais adicionais com a alteração do IOF, afetando negativamente operações de crédito, previdência e câmbio. Segundo ele, a medida representa, na verdade, uma transferência de recursos que sairiam do bolso da população para sustentar um Estado inchado e ineficiente.
Em tom mais coloquial e direto, o segundo vídeo mais viral sustenta que o aumento do IOF afetará diretamente o consumidor (mesmo sendo um imposto aplicado inicialmente às empresas). A lógica apresentada é que os custos tributários serão repassados aos preços dos produtos básicos. A gravação também acusa o governo Lula de ter um plano para enfraquecer a autonomia financeira da classe média, comparando o cenário com regimes autoritários como o da Venezuela.
O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) é o autor do terceiro vídeo mais popular. Na gravação, Gayer reconhece que o Executivo recuou no aumento do imposto (graças à pressão pública), mas sustenta uma narrativa que, aparentemente, une pontas desconexas. “Eles [governo] acabaram de voltar atrás do aumento do IOF com medo do efeito Nikolas... querem calar todos nós, inclusive você.”
O quarto vídeo mais popular tem conteúdo humorístico-jornalístico. Mostra a população sendo questionada sobre o significado do IOF e revelando profundo desconhecimento. Dá a entender que o povo não está ciente de uma suposta grande recessão no horizonte.
💬 Por que isso importa?
As mensagens em grupos de WhatsApp e Telegram funcionam como um termômetro de humor social. A reação negativa intensa, marcada por raiva e frustração, revela como decisões técnicas do governo estão sendo rapidamente traduzidas em narrativas de crise nesses espaços. Essas mensagens não são apenas críticas pontuais: elas mobilizam. Por fim, vale lembrar que ambientes onde há muita emoção são férteis para a circulação de desinformação econômica. Frases como “isso é para te empobrecer” misturam fatos com interpretações enviesadas e teorias conspiratórias. Entender esse conteúdo ajuda a se blindar.
E mais…
No que depender dos críticos do presidente da Câmara, Hugo Motta, ninguém no WhatsApp ou Telegram vai se esquecer de que um dos nomes mais citados no escândalo do INSS é o de seu ex-secretário Jerônimo Arlindo da Silva Júnior. A associação entre os dois, noticiada online há mais de duas semanas, está sendo requentada com frequência por vídeos e postagens que tratam do tema.
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Metodologia desta edição
Query 1: IOF
Query 2: IOF AND Haddad
Query 3: Motta AND Arlindo
Período: 19 a 26 de maio de 2025
Recorte idiomas: Português
Plataformas observadas: Grupos públicos de WhatsApp e Telegram
Ferramentas de apuração: Palver.com.br
p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
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Obrigada por ler a 🔥Ebulição!