🔥Interrogatório de Cid atinge 1 milhão no zap
Três narrativas bombam nos apps enquanto STF sabatina ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
🗞️ O que está acontecendo?
Mais de um milhão de usuários de WhatsApp e Telegram no Brasil foram impactados ontem (9) por mensagens que mencionavam o tenente-coronel Mauro Cid. O ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro é o primeiro réu do chamado “núcleo crucial” da tentativa de golpe observada em 2023 a prestar depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF). Durante cerca de quatro horas, Cid falou sobre o episódio e confirmou que Bolsonaro não só recebeu, mas também leu e editou a minuta do golpe. Nos grupos de direita, no entanto, a estratégia adotada foi a de desqualificar o documento encontrado pela Polícia Federal e de atacar o militar frontalmente.
De acordo com dados da Palver, ao menos 479 mensagens únicas sobre Cid circularam em 130 grupos públicos de WhatsApp e Telegram espalhados por 21 estados do país só na segunda-feira. O pico das publicações ocorreu por volta das 15h, pouco depois de Cid cumprimentar Bolsonaro na Corte e de relatar ao procurador-geral Paulo Gonet que o planejamento do golpe começou logo após o segundo turno das eleições presidenciais, quando foi confirmada a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


📊 O contexto importa:
Ao longo desta semana, outros integrantes do chamado “núcleo crucial” da tentativa de golpe serão interrogados pelo STF, e é bem provável que você receba em seus aplicativos de mensagens (e também via redes sociais) uma avalanche de informação — e desinformação — sobre o tema. Haverá quem minimize os ataques realizados às sedes dos Três Poderes (Congresso Nacional, Palácio do Planalto e sede do STF) em Brasília e quem tente classificar tanto a investigação do caso quanto o interrogatório como parte de uma farsa. Observe.
Fique atento ao emprego de táticas comuns da desinformação: uso de linguagem emocional para manipular, ataques ad hominem para desacreditar personagens centrais, e tentativas de desviar o foco do mérito da questão (a tentativa de golpe) para outros assuntos.
Agora vamos aos fatos. A atual rodada de depoimentos começou ontem com Mauro Cid porque, em setembro de 2023, ele firmou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal e seu conteúdo foi homologado pelo STF pouco depois. Isso significa que Cid se dispôs a contar o que sabe em troca da redução de sua pena. Se mentir, pode ter esse acordo revogado. Ou seja, todo o Brasil está de olho nele.
É importante que você saiba que, segundo o ex-ajudante de ordens, Jair Bolsonaro teve envolvimento direto na trama golpista que levou à depredação de Brasília em 8 de janeiro. Ele teria participado de reuniões com grupos radicais, articulado o “gabinete do ódio” que marcava presença nas redes sociais e pressionado a cúpula das Forças Armadas (sobretudo o chefe do Exército) para apoiar o golpe.
Cid também disse que o então presidente acompanhava de perto os acampamentos bolsonaristas montados em frente aos quartéis em 2022 e que sabia o que acontecia nesses lugares com a ajuda de informantes. Essa informação pode desmontar a tese da defesa de Bolsonaro (que também será interrogado nesta semana) que diz que ele estava no exterior na data dos eventos e que, portanto, não tem relação com eles.
Também saiba que, desde que o conteúdo da delação de Cid veio à tona, bolsonaristas têm repetido nas redes sociais e nos aplicativos de mensagem que o tenente-coronel foi coagido a mentir para incriminar Bolsonaro. Como “prova”, citam áudios em que ele realmente aparece falando que se sentiu pressionado. Mas, no depoimento de ontem, Cid foi perguntado sobre esse ponto e negou qualquer tipo de coação. Disse que não sabe como as gravações vazaram, mas que elas não passavam de um desabafo pessoal, feito num momento difícil, sem intenção de atacar quem colheu seu depoimento. O bolsonarismo não gostou.
🎥 O que viralizou:
Assim que o interrogatório de Mauro Cid começou, três linhas de discussão se espalharam nos grupos públicos de WhatsApp e Telegram do país. A primeira delas consistia numa tentativa clara de desqualificar seu depoimento. Em grupos de direita, uma das mensagens mais compartilhadas listava supostas contradições em sua fala e classificava a chamada “minuta do golpe” — considera peça-chave do caso — como “mal escrita” e sem valor jurídico por jamais ter sido assinada.
A segunda linha de debate ganhou força quando Cid revelou que, durante a redação da minuta, Bolsonaro teria não só pedido como também defendido a prisão do ministro Alexandre de Moraes. Dezenas de grupos compartilharam mensagens defendendo a posição do ex-presidente e alegando uma necessidade de “retomar” as instituições democráticas. Outras mensagens sugeriam fortemente que os brasileiros assistissem às transmissões vindas do STF ao vivo como forma de acompanhar o depoimento do ex-ajudante de ordens. Buscava-se, no mínimo, o engajamento da massa crítica ao Supremo.
A terceira frente de discussão ficou centrada em dois pontos: a ideia de que Bolsonaro teria tentado encontrar fraude nas urnas a qualquer custo como forma de justificar um golpe (de acordo com a delação de Cid) e a de que o ex-ajudante de ordens teria recebido dinheiro do general Braga Netto, então membro do governo, para financiar ações ligadas ao plano golpista.
Um post que se espalhou rapidamente em grupos de esquerda ressaltava, por sua vez, que, segundo Cid, o ex-presidente estava “obcecado” em derrubar o resultado das urnas.
💬 Por que isso importa?
O interrogatório de Mauro Cid foi só o começo de uma semana inteira de depoimentos quentes no plenário do STF. Muitos dos nomes do “núcleo crucial” são figuras ativas nas redes sociais e têm milhões de seguidores, o que amplia ainda mais o potencial de viralização e manipulação de informações nos próximos dias. Para hoje está previsto o interrogatório do ex-chefe da Marinha, o almirante Almir Garnier.
Além disso, vale lembrar que as atenções de boa parte do país também se voltam para o ambiente no próprio STF. Gonet e Moraes — além de outros magistrados — estão, sem dúvida, sendo observados e também “julgados”. Seus nomes tendem a ficar mais em evidência nos apps ao longo dos próximos dias se seus críticos enxergarem neles qualquer deslize. Em miúdos: as instituições da República também estão em xeque. Você sabe no que acreditar? Assine a 🔎 Lente e receba no seu e-mail a análise das principais narrativas desinformativas da semana.
E mais…
Outro tema que movimentou as conversas nos aplicativos de mensagens ontem (9) foi a polêmica envolvendo os anúncios do governo sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Segundo a Palver, só na segunda-feira, 283 mensagens únicas sobre o tema podem ter alcançado cerca de 1,09 milhão de pessoas em grupos de WhatsApp e Telegram do país. A maior parte desse conteúdo tinha tom negativo -- o que pode ser um indicativo de que o governo enfrenta uma crise considerável de imagem e apoio. Às 14h, por exemplo (veja gráfico abaixo), todas as mensagens analisadas pela ferramenta de linguagem natural da Palver caíam nessa categoria. Entre as postagens que mais viralizaram sobre o IOF na segunda-feira, havia críticas diretas ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Muitas sugeriam que ele tentava resolver a polêmica do IOF com “o que sabe fazer de melhor: aumentar outros impostos”. Vídeos (com mulheres em primeiro plano) questionavam o governo federal sobre a falta de debate relativo a cortes de gastos públicos. A narrativa em vigor é a de que Haddad (e Lula) querem arrecadar mais em vez de gastar menos.
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Metodologia desta edição
Metodologia de trabalho utilizada nesta edição:
Query 1: “mauro cid” OR cid
Query 2: IOF
Período: 9 de junho de 2025
Recorte idiomas: Português
Plataformas observadas: Grupos públicos de WhatsApp e Telegram
Ferramentas de apuração: Palver.com.br
p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
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