🔥🔥Fraude no INSS bomba no 'zap' há um mês
Mesmo após o início do reembolso às vítimas, é a fraude que segue viralizando nos grupos
🗞️ O que está acontecendo?
Desde 23 de abril, quando o escândalo dos descontos indevidos no INSS veio à tona, o tema toma boa parte do noticiário e gera uma guerra de desinformação — tanto nas redes quanto nos aplicativos de mensagem. A atuação do atual governo federal — para tentar sanar, explicar ou reverter a situação — continua a ser explorada politicamente, como se nada estivesse sendo feito.
O monitoramento de mais de 100 mil grupos públicos de mensagem por meio da Palver mostra que, nos últimos três dias, os termos “INSS”, “Lula” e “Bolsonaro” aparecem juntos em 563 grupos de WhatsApp e Telegram, podendo ter alcançado 1,1 milhão de pessoas, em mais de mil mensagens únicas. Lula aparece como culpado. Bolsonaro, como defensor de uma CPI para apurar o esquema de fraudes.
Apenas no WhatsApp, as menções ao INSS quase dobraram de domingo (25) para segunda-feira (26). Nos últimos três dias, no serviço de mensagens da Meta, 229 grupos públicos falaram sobre o assunto. Ao todo, foram 857 mensagens únicas, potencialmente atingindo 74 mil usuários.
No Telegram, o termo “INSS” apareceu junto de “Lula” ou “Bolsonaro” em 496 mensagens únicas, em 81 grupos. Ao todo, 1 milhão de pessoas podem ter sido impactadas pelo assunto nos últimos três dias.
Parte significativa das interações continua a repercutir notícias sobre os desdobramentos mais recentes do escândalo, como informações sobre o reembolso às pessoas lesadas e a discussão sobre a criação de uma CPI do INSS. É nítido que o discurso que prevalece associa Lula às fraudes. Em alguns casos, também sobra para o Poder Judiciário, que é retratado como cúmplice do governo federal.
A 🔥Ebulição e todos os conteúdos da Lupa são gratuitos. Apoie.
📊 O contexto importa:
Na última segunda-feira (26), aposentados e pensionistas que tiveram valores descontados sem autorização começaram a ser ressarcidos pelo INSS. De acordo com a entidade, por enquanto, R$ 292 milhões serão estornados às vítimas.
O início da devolução foi noticiado pelo país e um grande número de pessoas está corretamente interessada em saber se (e quando) terá seu dinheiro de volta. Trata-se de uma primeira resposta aos lesados, e esta pode ter sido a oportunidade perfeita para os apps bombarem com conteúdos para atingir o governo. Ao invés de prevalecer o reembolso, reina a fraude.
Há exatamente um mês, na edição de 29 de abril, a Ebulição já havia percebido a enorme movimentação gerada pelo tema em grupos públicos de mensagens e adiantado que o escândalo “ameaça respingar até 2026”. Cá estamos, trinta dias depois, na segunda grande onda de mensagens sobre o fato político.
🎥 O que viralizou:
Desde domingo, a frase “Essa merece rodar o país inteiro”, acompanhada de um vídeo, apareceu em 19 mensagens únicas e em 15 grupos de WhatsApp, atingindo pelo menos 4 mil usuários do serviço de mensagens da Meta. O que merecia “rodar o país inteiro” era uma gravação da vereadora Mariza Almeida (PL), de Redenção (PA), publicada no Instagram no último 16 de maio.
No vídeo, a vereadora bolsonarista pergunta quantas pessoas já foram presas pelo rombo no INSS e ironiza: “Já deram 48 horas para dar explicação e devolver o dinheiro? Quantas pessoas já foram presas para não prejudicar a investigação? Só para saber mesmo. Dois pesos e duas medidas, não é isso? Democracia relativa”. O vídeo termina com a vereadora sambando ao som da música “A Grande Família”, tema do seriado homônimo.
Os questionamentos de Almeida ecoam em quem vê injustiça no escândalo — e quem aqui não vê, não é mesmo? É fato que os culpados precisam ser responsabilizados. Mas há, implícita no vídeo, além da certeza de que a culpa exclusiva pelas fraudes é do atual governo, uma comparação deste caso com os julgamentos por tentativa de golpe de Estado, em curso no STF.
Vamos então pontuar: são eventos distintos, em fases distintas. Difícil comparar os atos que ocorreram entre 2022 e janeiro de 2023 e que poderiam ter culminado em um golpe de Estado a um (significativo) escândalo na Previdência, descoberto no mês passado e que ainda está sob investigação. Merecendo ou não, o vídeo da vereadora está, sim, “rodando o país inteiro”. Como mostra a Palver, o conteúdo foi compartilhado em estados como Alagoas, Amazonas, São Paulo, Santa Catarina, Sergipe, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Goiás e Paraná, além do Distrito Federal.
Outro conteúdo que circulou em grupos de mensagens e recebeu seta dupla da Meta por conta do seu alto índice de viralização é um vídeo do apresentador Ratinho. Alternando imagens de idosos e de ministros do STF, ele critica o governo por “exigir” que os aposentados se manifestem sobre os descontos em seus benefícios. “O meu raciocínio é muito simples: se não foi preciso informar para roubar, também não deveria ser necessário para devolver”.
O comentário traz, de forma escamoteada, a ideia de que a responsabilidade pelos descontos indevidos é do próprio governo; mas o conteúdo que circula nas redes vai além. Ao exibir ministros do STF junto à fala de Ratinho, os alvos da crítica ficam claros: governo e Poder Judiciário, como se um só fossem. O vídeo também expõe a frase “cambada de vagabundos”.
Aparecem na publicação, além do presidente Lula e do ex-ministro da Previdência Carlos Lupi, os ministros do STF Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia, Edson Fachin, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Cristiano Zanin e o Procurador-Geral da República, Paulo Gonet. Kassio Nunes Marques aparece pela metade, em uma foto coletiva.
O que dizem as checagens:
Nos primeiros dias após o escândalo do INSS vir à tona, a Lupa desmentiu a alegação viral de que Lula “derrubou” a lei de combate a fraudes na previdência criada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
Também vale lembrar sobre o risco de golpes digitais ligados a esse escândalo. A Lupa já identificou e alertou para ao menos três deles (aqui, aqui e aqui). Fique atento!
💬 Por que isso importa?
O esquema de descontos indevidos em benefícios do INSS foi revelado pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU), após operação deflagrada em 23 de abril. Investigações apontam que organizações associativas realizavam descontos fraudulentos nos benefícios, sem que aposentados e pensionistas soubessem.
Nesta quarta-feira (28), o delegado da Polícia Federal Carlos Henrique de Sousa afirmou que a Operação Sem Desconto, que investiga as fraudes, ainda está em fase inicial. “É um campo que se vislumbra muito maior”, disse.
Em duas semanas, mais de 2 milhões de pedidos de reembolso foram registrados junto ao INSS. Ainda sem saber a exata quantia que foi desviada, o governo prometeu aos beneficiários lesados o reembolso até 31 de dezembro. Se a extensão dos danos financeiros é ainda desconhecida, avalie o possível dano político. Por aqui, continuaremos contando como esse caso aparece nos apps do país.
E mais…
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, covardemente atacada por senadores da República na última terça-feira (27), foi tema em 141 grupos de WhatsApp e Telegram nos últimos dois dias. O nome da ministra circulou em 308 mensagens únicas, chegando a 886 mil pessoas nos dois aplicativos. Em geral, Marina também é atacada nestes espaços digitais. Um texto de opinião intitulado “E o Oscar vai para… Marina Silva!”, por exemplo, alcançou 4 mil pessoas. Na visão do autor, a ministra se vitimizou, e a esquerda transformou o “contraditório em violência, a discordância em opressão, a crítica em misoginia”. Em outra publicação, o fato foi narrado como um surto de Marina Silva, suposta autora de bate-boca no Senado. No Telegram, “Omar Aziz detonou Marina Silva” e a cena foi vista como “o ápice da vitimização”.
📩 Conhece alguém que deveria ler a 🔥Ebulição? Compartilhe este link aqui.
Metodologia desta edição
Query 1: INSS
Query 2: INSS AND Lula OR Bolsonaro
Query 3: Marina Silva
Período: 25 a 28 de maio de 2025
Recorte idiomas: Português
Plataformas observadas: Grupos públicos de WhatsApp e Telegram
Ferramentas de apuração: Palver.com.br
p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
Conheça nossa política de privacidade.
Obrigada por ler a 🔥Ebulição!