🔥’Fake Judge’ viraliza e desafia STF
Documentário de ativista português repercute em sites de direita e agita opositores de Moraes
Entender a desinformação que circula em grupos públicos de WhatsApp e Telegram é vital para quem quer compreender e combater esse fenômeno no Brasil. Conhece alguém que poderia se interessar por este conteúdo? Compartilhe este link aqui.
🗞️ O que está acontecendo?
Entre 7h03 e 11h14 da quarta-feira (5), três sites alinhados à direita publicaram, em sequência, três reportagens praticamente idênticas. Os textos informavam que o jornalista e ativista português Sérgio Tavares, conhecido por afirmar que o Brasil vive sob uma “ditadura do Judiciário” e por ser comentarista da Revista Oeste, está finalizando um documentário sobre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. As reportagens diziam ainda que a produção feita inteiramente em inglês tem lançamento previsto para o mês de maio no YouTube.
Resultado: em poucos minutos, Fake Judge - The story of a nation in the hands of a psychopath (Falso Juiz: A história de uma nação nas mãos de um psicopata, em tradução livre) passou a figurar entre os conteúdos mais compartilhados em grupos públicos de WhatsApp e Telegram que reúnem bolsonaristas e anti-alexandristas.
Dados da Palver mostram que, só na quarta-feira, pelo menos 44 mensagens únicas sobre a produção podem ter impactado mais de 33 mil pessoas no Brasil, com grande repercussão no Rio Grande do Sul, no Paraná e na Paraíba.

📊 O contexto importa:
Mas quem é Sérgio Tavares? Em suas redes sociais, ele se apresenta como “professor, ex-speaker do Sporting Clube de Portugal e ex-jornalista correspondente da Rádio Renascença em Timor Leste". No Brasil, Tavares ficou conhecido por ter entrevistado o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por atuar como comentarista da Revista Oeste e por ter sido injustamente “detido” ao tentar entrar no país para “apenas tirar imagens” de um evento que bolsonarismo realizaria na Avenida Paulista, em fevereiro do ano passado.
Mas a história não é tão simples assim.
Em 25 de fevereiro de 2024, Tavares desembarcou na capital paulista e, ao passar pela imigração, disse que vinha ao Brasil para participar de um evento em favor de Bolsonaro. Segundo nota emitida pela Polícia Federal na época, para ter direito de realizar essa atividade em território nacional, o jornalista-ativista teria que apresentar um visto de trabalho – algo que ele não tinha. Sendo assim, seguindo “o protocolo regular de admissão de estrangeiros“, Tavares ficou retido no aeroporto por algumas horas. Nesse período, postou um vídeo em suas redes sociais sugerindo que seus direitos estavam sendo desrespeitados. A gravação foi compartilhada pelo ex-presidente e pôs fogo na narrativa de que o Brasil vive sob uma ditadura da Justiça.
De lá para cá, Tavares se dedicou à produção de Fake Judge, gravado em 10 países com testemunhos de nomes como Bolsonaro, Allan dos Santos, Paulo Figueiredo, Nikolas Ferreira, Gustavo Gayer, Silas Malafaia, Marcel Van Hattem, Bia Kicis, Eduardo Girão, Oswaldo Eustaquio, e envolvidos no 8 de janeiro que estão em países como Argentina e Itália.
Na segunda-feira (3), Tavares publicou um mini-trailer em suas redes sociais – que acabou pautando a imprensa brasileira de direita – e começou a pedir dinheiro para pagar as contas do projeto. Nas redes, o jornalista-ativista diz que seu “jornalismo independente” é uma missão que precisa de ajuda e compartilha dados de sua conta bancária e outros sistemas eletrônicos comumente usados para crowdfunding.
🎥 O vídeo que viralizou:
O mini-trailer de Fake Judge tem 56 segundos de duração e foi a peça mais compartilhada sobre esse assunto nas últimas 24 horas. Narrado em inglês (e com legendas em português), ele mostra uma idosa com uma Bíblia na mão, o bilionário Elon Musk, o ex-presidente Bolsonaro e o próprio Tavares para dizer que eles têm algo em comum: “Todos foram perseguidos por Alexandre de Moraes, chefe do Supremo Tribunal Federal do Brasil".
Dados da Palver mostram que a gravação em questão já foi tão compartilhada dentro do WhatsApp que levou a seta dupla da Meta, que indica alto grau de viralização. Entre os comentários mais comuns que acompanham a postagem estão frases como “Esse tem que assistir" e “Ajudem a divulgar. Vamos apoiar nosso Portuga querido".
🚨 O que dizem as checagens?
Uma busca no Google Fact Check Explorer, que reúne checagens profissionais feitas no mundo todo, mostra que Tavares já foi alvo de cinco verificações desde fevereiro do ano passado. Já foi pego mentindo sobre o episódio do aeroporto de São Paulo (por checadores portugueses) e desinformando sobre as urnas eletrônicas do Brasil (aqui e aqui).
💬 Por que isso importa?
Que Alexandre de Moraes tem posicionamento polêmico, não há dúvida. Mas, ao que tudo indica, o Supremo Tribunal Federal precisa se preparar para enfrentar o tsunami que Fake Judge pode gerar. Se Tavares entregar ao mundo um documentário baseado em fatos passíveis de checagem, a Corte será pressionada a se posicionar. Se seu filme for enviesado, talvez tenha que tomar medidas judiciais. De qualquer forma, é vital acompanhar a conversa – e a promoção de Fake Judge nas bolhas de direita.
Durante a pandemia, as Américas foram sacudidas por um documentário extremamente bem feito que vendia a teoria da conspiração de que uma elite global espalhou o vírus da Covid-19 para promover uma espécie de reinício do planeta. Na época, Meta, Google e outras redes sociais de peso, entraram de sola e retiraram “Plandemic” de seus feeds. Mas o mundo deu voltas e o Supremo não deve esperar qualquer atuação das plataformas no que diz respeito à moderação de conteúdos falsos, enganosos ou mesmo anti-democráticos. Esse tempo parece já ter passado.
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E mais…
Bombou em grupos públicos de WhatsApp de esquerda um vídeo do pastor Silas Malafaia se queixando das deportações feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A gravação, que traz fotos de templos supostamente vazios na Flórida, ironiza Malafaia por ter apoiado o avanço da direita no mundo e agora estar sentindo os efeitos em seu próprio bolso. Em apenas duas horas, a gravação viralizou tanto no aplicativo que também levou a seta dupla da Meta.
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Nota da autora
A 🔥Ebulição é pensada para atender às suas necessidades. Mande seus comentários e sugestões para cris@lupa.news.Um abraço carinhoso,
Cris Tardáguila
Fundadora e repórter da Lupa
p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
Metodologia desta edição
Query 1: “fake judge”
Query 2: malafaia
Período: 3 a 5 de fevereiro de 2025
Recorte idioma: Português
Plataformas observadas: Grupos públicos de WhatsApp e Telegram
Ferramentas de apuração: Palver.com.br
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Obrigada por ler a 🔥Ebulição!