🔥EUA: Posts sobre fraude somem da noite pro dia
#5: Enquanto trumpistas desistiam do segundo ato da ‘fake’ eleição fraudada, Brasil gerava memes
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Demorou cerca de quatro horas para que as principais redes de notícias dos Estados Unidos cantassem a vitória do republicando Donald Trump na eleição presidencial. O primeiro meio de comunicação a cravar que o ex-presidente voltaria à Casa Branca foi o NewsNation, à 1h22 da madrugada de quarta-feira (6), horário local, pouco mais de 3h no Brasil. O último gigante a confirmar a vitória republicana foi a ABC, que só deu o resultado às 5h34 de Washington, D.C. Entre um e outro, estavam Fox News, CNN, Associated Press e por aí vai.
Por que essas quatro horas de diferença são relevantes? Foi durante elas que as – até então – gigantescas e ultrapopulares narrativas de fraude eleitoral desapareceram dos grupos públicos que comentavam a eleição americana em português no WhatsApp e no Telegram. Parecia mágica.
Os dados e gráficos gerados pela Palver, que monitora mais de 80 mil desses grupos, são impressionantes. Entre as 13h da terça-feira (5) de eleição e a 0h da madrugada de quarta (15h de terça e 2h de quarta no horário de Brasília), ao menos 22 mensagens únicas contendo os termos “fraude” e “Trump” foram disseminadas por 14 grupos, impactando cerca de 324 mil pessoas.
Já nas 12 horas seguintes ao alerta do NewsNation, o total de mensagens com os mesmos termos (“fraude” e “Trump”) caiu para oito, chegando a apenas 310 pessoas – membros de apenas três grupos públicos de WhatsApp.
Quedas igualmente vertiginosas foram observadas em buscas pelos mesmos termos em inglês (“fraud” e “Trump”) e em espanhol (“fraude” e “Trump"). Veja a seguir o gráfico das 24 horas observadas em ambos idiomas.
Os dados mostram, portanto, que as narrativas de fraude detectadas ao longo da semana sumiram por completo do Telegram e minguaram no WhatsApp nos três idiomas.
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Os apps de mensagem ferveram com o assunto fraude eleitoral no meio da tarde de terça, quando o foco das mensagens em português era amplificar ao máximo a postagem de Trump na Truth Social, rede social que ele fundou, apontando uma (jamais confirmada) “fraude massiva” no estado da Pensilvânia. De fato, algumas máquinas que escaneavam votos nesse estado-pêndulo tiveram falhas, mas todas foram substituídas sem prejuízo ao processo, como contamos na 🔥Ebulição de quarta (6). A narrativa de fraude, no entanto, seguiu sendo compartilhada até bem depois do fechamento das seções eleitorais, indicam dados da Palver.
No período de alta disseminação desses conteúdos, houve quem chamasse o episódio de “grande fraude”, quem fizesse posts com as palavras “urgente” e “SOS" e quem pedisse a ação imediata das “autoridades cabíveis". O conjunto das mensagens indica ou uma preocupação real com a Pensilvânia ou o curso do primeiro ato de uma grande encenação.
Até o fechamento desta edição, Trump não havia feito qualquer outra postagem sobre a suposta fraude – nem pedindo mais investigações, nem se retratando por despertar um alerta sem fundamento em meio ao processo eleitoral. Nos apps, o comportamento foi o mesmo. Os grupos que até pouco antes da confirmação da vitória do republicano inflavam alertas de fraude pararam de exigir posições das autoridades e também não deram sequer um passo atrás. Para bom entendedor, fica claro que o segundo ato da encenação não precisou acontecer.
Avaliações mais detalhadas sobre esse desaparecimento de narrativa são necessárias. Por ora, fica o desmantelamento bem sucedido de uma das mentiras mais perigosas para a democracia. Assim como no Brasil, na Índia, no México e em outros tantos países que celebraram eleições em 2024, ficou claro que não houve fraude eleitoral nos Estados Unidos.
E mais…
Uma série de conteúdos em português sobre a vitória de Trump levaram a seta dupla de viralização da Meta durante a quarta-feira. O primeiro é um vídeo em que o presidente eleito diz que quem assaltar uma loja e for pego levará um tiro no local. Para milhares de brasileiros expostos a esse conteúdo, “é a primeira promessa a ser cobrada” do republicano quando ele chegar à Casa Branca.
O segundo vídeo marcado pela Meta por seu alto índice de viralização traz Trump dizendo que Robert F. Kennedy Jr. cuidará de investigações oficiais para tentar entender a “constante alta na taxa de problemas de saúde das crianças”, especialmente o autismo. RFK Jr. parece estar ganhando apoiadores e se popularizando entre os brasileiros, apesar de ser um dos maiores nomes do movimento antivacina dos Estados Unidos.
Dois memes também bombaram nas últimas 24 horas entre os conteúdos em português sobre a eleição americana nos grupos públicos monitorados pela Palver. No primeiro, obviamente gerado por inteligência artificial, Trump canta o hino do Flamengo. No segundo, a Estátua da Liberdade arremessa a democrata Kamala Harris usando um estilingue feito com uma máscara usada contra a Covid-19, uma amostra de que o negacionismo da pandemia não morreu.
Nota da autora
A 🔥Ebulição é pensada para atender às suas necessidades. Mande seus comentários e sugestões para cris@lupa.news.Um abraço carinhoso,
Cris Tardáguila
Fundadora e repórter da Lupa
p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
Metodologia desta edição
Query 1: kamala OR "kamala harris" OR camala OR cagala OR tamala OR trump OR "donald j. trump" OR "donald Trump" OR vance OR "jd vance" OR "J.D. Vance" OR "Tim Walz" OR walz
Query 2: (fraud AND Trump) OR (fraude AND Trump)
Período: 5 a 6 de novembro de 2024
Recorte geográfico: -
Recorte idioma: português, espanhol e inglês
Plataformas observadas: Grupos públicos de WhatsApp e Telegram
Ferramentas de apuração: Palver.com.br