🔥EUA: O caos importado da fraude eleitoral
#3: Narrativas de manipulação das urnas não são novidade; fique atento e saiba como checar
Conhece alguém que deveria ou gostaria de ler a 🔥Ebulição EUA? Compartilhe este link.
Quando esta newsletter chegar à sua caixa de entrada, o último dia de votação para a escolha do novo presidente dos Estados Unidos estará a pleno vapor. E, com ele, as redes sociais e os aplicativos de mensagens.
É esperado que se espalhem pelo planeta um sem número de posts — com vídeos, fotos e áudios — alimentando a história de que o processo eleitoral americano é vulnerável e passível de fraude. Uma narrativa falsa que, infelizmente, conhecemos bem no Brasil. Nesta edição da 🔥Ebulição EUA, trazemos uma "vacina" contra a ideia de que o caos total tomou ou tomará conta da eleição americana. Acione a razão, mantenha os pés no chão e entenda que as narrativas de fraude eleitoral devem ser enfrentadas com coragem e discernimento. E aqui vão alguns pontos importantes.
Primeiro, é crucial saber que a acusação de fraude eleitoral não é um fenômeno novo nem exclusivo dos Estados Unidos — ela tem se espalhado por países como México, Argentina e Índia, onde também ocorreram eleições recentemente. Em nenhum desses casos (nem mesmo no Brasil) as alegações de fraude foram comprovadas. Todas as ações movidas nos Estados Unidos para supostamente comprovar fraudes em 2020 deram em água. Não há nenhum caso concreto e comprovado de fraude no sistema americano até hoje.
É importante lembrar que a eleição presidencial dos Estados Unidos é alvo de operações de influência de grande porte promovidas por países antidemocráticos como Rússia e China. Nesta semana, vários grupos públicos de WhatsApp que discutem política americana em inglês, português e espanhol foram impactados por um vídeo no qual um homem de pele escura e forte sotaque rasga votos em Donald Trump enviados por correio. Uma investigação do FBI mostrou que se tratava de uma ação de desinformação ligada à Rússia.
É preciso treinar nossos olhos para analisar com rigor cada um dos posts que supostamente “comprovarão fraudes” eleitorais. Um exemplo ilustrativo: há pelo menos duas semanas circula em grupos públicos de Telegram (que se comunicam em inglês, português e espanhol) um vídeo de um eleitor do Texas alegando que seu recibo de votação trazia o nome da democrata Kamala Harris, em vez do de Donald Trump, em quem ele diz ter votado. Mas o homem não mostra o recibo em questão. Como ter certeza do erro alegado?
AJUDE A MANTER NOSSO CONTEÚDO GRATUITO: FAÇA UM PIX PARA CONTEXTO@LUPA.NEWS
Há outro vídeo na mesma linha que, segundo dados da Palver, também aterrissou entre brasileiros nos últimos dias. Nele, uma eleitora idosa sentada em frente a um computador expressa surpresa ao supostamente ver votos registrados em seu nome em eleições anteriores. De forma repetitiva, ela afirma que participou apenas da eleição de 2020 (nos EUA o voto é facultativo), o que sugere fraude em seu nome nos demais pleitos. Porém, em nenhum momento, a câmera focaliza a tela do computador, tornando impossível verificar a veracidade da alegação. Mesmo que a tela fosse vista e que os votos aparecessem como a mulher descreve, não haveria como confirmar que ela realmente nunca votou antes. Ou seja, atenção redobrada às histórias que não fecham completamente.
Um quarto ponto da vacina tem a ver com a origem da informação. É bem verdade que, às vezes, é difícil saber de onde vem um dado que recebemos pelo WhatsApp, mas aqui temos algumas pistas. Informações coletadas pela Palver mostram, por exemplo, que o tal vídeo criado pela Rússia sobre votos em Trump sendo rasgados se espalhou no Brasil pelas mãos de usuários de WhatsApp com DDD do interior de Minas Gerais. Faz sentido? Eles teriam acesso a alguma informação privilegiada frente à toda a imprensa americana? E o vídeo do qual falamos na edição passada da 🔥Ebulição, que mistura corrida de Fórmula 1 com fraude eleitoral, foi disseminado no Brasil a partir do interior do Amazonas. No mínimo estranho, não?
Vale observar com grande ceticismo os paralelos entre o que circulará nas redes sociais e apps de mensagem nas próximas horas e o que já vimos aqui no Brasil. Já estamos um pouco escaldados — e aqui, a prova: uma gravação mostrando uma suposta impossibilidade de clicar no nome de Trump na tela do que seria uma urna eleitoral dos Estados Unidos lembra, em tudo, conteúdos que atacavam a confiabilidade das urnas eletrônicas no Brasil em 2018. Você lembra do vídeo de um eleitor brasileiro que dizia digitar um número de candidato, mas ver outro aparecer na tela? Pois é. Uma tentativa de espalhar o pânico.
Casos como este foram investigados no Brasil e se resumiam a erros humanos, como digitar errado ou encostar em várias partes da tela ao mesmo tempo.
Triplique sua atenção. Avalie criteriosamente esse tipo de postagem. E lembre-se de que a eleição americana é altamente descentralizada. Para que uma ação fraudulenta realmente tivesse impacto no resultado final seria preciso o envolvimento de centenas de milhares de indivíduos em um número gigantesco de condados.
Para qualquer outra dúvida, aqui estaremos.
Nota da autora
A 🔥Ebulição é pensada para atender às suas necessidades. Mande seus comentários e sugestões para cris@lupa.news.Um abraço carinhoso,
Cris Tardáguila
Fundadora e repórter da Lupa
p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
Metodologia desta edição
Termos buscados: kamala OR "kamala harris" OR camala OR cagala OR tamala OR trump OR "donald j. trump" OR "donald Trump" OR vance OR "jd vance" OR "J.D. Vance" OR "Tim Walz" OR walz
Período: 28 de outubro a 4 de novembro de 2024
Recorte geográfico: -
Recorte idioma: português
Plataformas observadas: Grupos públicos de WhatsApp e Telegram
Ferramentas de apuração: Palver.com.br