🔥Direita caça Paulo Gonet e delegado da PF
Mobilização nos apps se centrou em atacar aqueles que investigaram e denunciaram Bolsonaro
Entender a desinformação que circula em grupos públicos de WhatsApp e Telegram é vital para quem quer compreender e combater esse fenômeno no Brasil. Conhece alguém que poderia se interessar por este conteúdo? Compartilhe este link aqui.
🗞️ O que está acontecendo?
Na noite de terça-feira (18), logo depois de vir à tona a informação de que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, havia oferecido denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas por tentativa de golpe de Estado, dezenas de grupos públicos de direita se articularam no WhatsApp e no Telegram para iniciar uma ofensiva digital com sérios contornos de doxxing.
Segundo dados extraídos da Palver, menos de 24 horas depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) receber a denúncia de Gonet, mais de 417 mil usuários desses aplicativos já haviam recebido pelo menos uma das 134 mensagens únicas que falavam do procurador. A maioria dessas mensagens trazia links com fortes críticas à denúncia, classificada como “inepta”, ou com ataques explícitos contra a honra do procurador, acusado de ser “mais um tentando manter a direita longe do poder”.
No mesmo período, também viralizou por grupos públicos de WhatsApp e Telegram uma foto que supostamente mostra o rosto do delegado da Polícia Federal, Fábio Alvarez Shor, responsável pelo inquérito que embasou o trabalho de Gonet. Nas mensagens que falam dele e que podem ter atingido mais de 12 mil pessoas, Shor é classificado como “canalha”, “lixo humano” e “vira-lata de confiança” do STF. O texto ainda pede que os apoiadores do ex-presidente Bolsonaro espalhem seu rosto Brasil afora.
📊 O contexto importa:
Seguindo sua estratégia habitual de atacar os mensageiros e não apenas as mensagens, o bolsonarismo arregaçou as mangas e trabalhou sob a proteção da criptografia dos apps para desgastar tanto Gonet como Shor.
Os ataques ao procurador-geral eram, de certa forma, previsíveis. Jurista e professor universitário com uma carreira de mais de três décadas no Ministério Público Federal, Gonet foi cogitado para o cargo de PGR em 2019, mas a nomeação foi dada a Augusto Aras, que tinha um perfil mais alinhado ao do presidente Bolsonaro. Em dezembro de 2023, no entanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com Gonet e o indicou para o mais alto cargo da Procuradoria-Geral da República. Sua indicação seguiu o trâmite de praxe e foi aprovada pelo Senado por 65 votos a favor e 11 contrários, em votação secreta. Embora seja considerado “conservador, religioso, ponderado e conciliador”, Gonet é visto pela direita como um aliado de Lula. Já era, portanto, alvo claro para ataques. Com a denúncia contra Bolsonaro, a onda de críticas só se acirrou.
O que surpreendeu nesta semana foi a intensificação da caça às bruxas ao delegado Shor, que desde 2024 tem tido sua imagem exposta por deputados federais como Eduardo Bolsonaro, Marcel Van Hattem e Marcos do Val em sessões do Congresso e em redes sociais. No segundo semestre do ano passado, com grande frequência, seu nome apareceu em cartazes com a palavra “procura-se” e junto a descrições que o identificam como “capataz” do ministro do Supremo, Alexandre de Moraes.
Shor, que é um dos delegados que assina o indiciamento de Bolsonaro no caso da tentativa de golpe de Estado, tem agora que enfrentar a onda de ódio no WhatsApp e Telegram — e ela tende a crescer. O bolsonarismo dos grupos públicos pede abertamente que seu rosto fique conhecido do público em geral.
🎥 O que viralizou:
Nos últimos dias, ao menos quatro mensagens atacando Gonet foram identificadas em grupos públicos de WhatsApp e Telegram. A mais compartilhada mostra uma foto de Lula supostamente cochichando com Gonet, acompanhada de uma mensagem que direciona os usuários dos aplicativos a um blog de extrema direita. Para esses grupos, a denúncia contra o ex-presidente é um “golpe do golpe”, e a atitude do PGR é considerada inaceitável.
Além disso, mensagens de influenciadores digitais e de políticos de direita também viralizaram nesses espaços digitais, classificando o trabalho de Gonet como inepto e absurdo. Nessas mensagens, se solidifica a narrativa de que nem a PF nem a PGR conseguiram juntar provas suficientemente críveis para sustentar a acusação de tentativa de golpe contra Bolsonaro e outros 33 envolvidos. Leia aqui o conteúdo da denúncia na íntegra.
Por fim, também viralizam conteúdos que propagam a ideia de que um “estado profundo” estaria agindo para minar a direita no Brasil. Neles, Gonet é acusado de ser um jurista parcial e de apoiar forças que buscam “vencer no tapetão, fora da arena política”.
No que diz respeito a Shor, a principal mensagem diz que ele por anos se manteve no anonimato, mas que é o responsável pela prisão de “patriotas inocentes”. O delegado é acusado de ser responsável por fazer as crianças (filhas dos presos) chorarem e de produzir inquéritos “ilegais e infundados”. “É um tipo de lixo humano", amplifica o texto que já levou seta dupla da Meta por conta do grande número de vezes que foi encaminhado.
💬 Por que isso importa?
O doxxing é a prática de divulgar informações pessoais e privadas de alguém sem o seu consentimento, geralmente com o intuito de causar danos à sua reputação, segurança ou bem-estar. Essas informações podem incluir nome completo, endereço, números de telefone, e-mails, e outros dados sensíveis. O doxxing é frequentemente realizado por meio de plataformas online, como redes sociais, fóruns e aplicativos de mensagens, e é usado como uma forma de vingança, intimidação ou manipulação. É de se esperar que tanto Gonet quanto Shor infelizmente sejam alvos disso. E a mídia precisa ter cuidado para não amplificar essa situação. Há poucos dias, o site Metrópoles informou, por exemplo, que Shor foi promovido a chefe da Divisão de Investigações e Operações de Contrainteligência da Polícia Federal, ou seja, galgou alguns degraus na profissão. Isso certamente será lenha na fogueira para quem já odeia o delegado.
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E mais…
Mais de 1 milhão de usuários de WhatsApp e Telegram usaram os grupos públicos de que são membros para falar sobre a onda de calor que atinge o Brasil. Postagens feitas por diversas prefeituras — entre elas Rio de Janeiro e São Paulo — alertando para o risco das altas temperaturas viralizaram nos apps, ganhando seta dupla da Meta. Mas também fizeram sucesso as postagens que tratavam da venda de ventiladores, aparelhos de ar-condicionado e as que continham memes sobre o calor. Beba água, use protetor solar e procure consumir comidas leves. Ainda falta um mês para o fim do verão.
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Nota da autora
A 🔥Ebulição é pensada para atender às suas necessidades. Mande seus comentários e sugestões para cris@lupa.news.Um abraço carinhoso,
Cris Tardáguila
Fundadora e repórter da Lupa
p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
Metodologia desta edição
Query 1: bolsonaro OR denúncia OR pgr OR gonet
Query 2: calor OR temperatura
Período: 16 a 19 de fevereiro de 2025
Recorte idioma: Português
Plataformas observadas: Grupos públicos de WhatsApp e Telegram
Ferramentas de apuração: Palver.com.br
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Obrigada por ler a 🔥Ebulição!