🔥Deputada foge do Brasil e é encontrada no zap
Fuga de Carla Zambelli movimenta apps de mensagens com piadas e críticas ao Judiciário
🗞️ O que está acontecendo?
Nos últimos dois dias, o nome “Carla Zambelli” apareceu em 174 grupos de WhatsApp e Telegram no Brasil. Ao todo, 396 mensagens únicas podem ter chegado a 931 mil pessoas, entre terça-feira (3) e o dia de ontem, segundo dados da Palver, que monitora mais de 100 mil grupos públicos nos apps de mensagem.
O pico de menções à deputada federal do PL — que teve a prisão preventiva decretada na quarta (4) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) — foi 50% maior do que o observado em 30 de janeiro, quando teve o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP).
A movimentação é impulsionada, em grande parte, pela notícia de que Carla Zambelli deixou o país. A fuga da deputada resultou no pedido de prisão feito ao STF pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Junto aos termos “fuga” ou “fugiu”, o nome da ex-deputada figura em 43 mensagens únicas que chegam, potencialmente, a mais de 160 mil pessoas no WhatsApp e no Telegram.
📊 O contexto importa:
No último 16 de maio, Zambelli foi condenada, de forma unânime, pela Primeira Turma do STF, pelos crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica. Ao lado do hacker Walter Delgatti Neto, condenado na mesma decisão, ela era acusada de invadir sistemas e adulterar documentos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A sentença previu, para Zambelli, 10 anos de prisão, em regime inicialmente fechado, além do pagamento de uma multa no valor de dois mil salários mínimos.
Na manhã desta terça-feira (3), a deputada afirmou publicamente que havia deixado o Brasil. Em entrevista ao canal Auriverde Brasil, no YouTube, Zambelli disse que saiu do país, inicialmente, por motivos médicos, mas revelou que pretendia se licenciar do cargo de deputada e se basear na Europa. A parlamentar chegou a citar o exemplo do também deputado Eduardo Bolsonaro, que se licenciou e atualmente mora nos Estados Unidos.
No mesmo dia, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao STF a prisão preventiva e o bloqueio de bens da parlamentar. O tribunal acatou o pedido, e o ministro Alexandre de Moraes determinou a inclusão do nome de Zambelli na difusão vermelha da Interpol. Na prática, caso isso ocorra, a deputada poderia ser presa em qualquer país. Sua eventual extradição para o Brasil, porém, depende de acordos internacionais firmados com outras nações.
Nos apps, uma das mensagens virais diz que Moraes violou o artigo 53 da Constituição ao decretar a prisão de uma parlamentar. Na decisão do ministro, porém, há uma ordem para que o presidente da Câmara dos Deputados seja comunicado para tomar as providências que cabem ao Legislativo, como o bloqueio do salário. Caso a deputada seja presa, ainda caberá ao Parlamento votar pela manutenção da prisão.
🎥 O que viralizou:
“Silenciada pela ditadura da toga. Zambelli lutará no exterior pelo resgate da democracia no Brasil”, é o que diz uma das postagens que circula no WhatsApp. Trata-se de um print de uma publicação da própria Zambelli em seu perfil no Instagram. Uma chave Pix aparece na tela para arrecadar doações à deputada e, no app, a mensagem também divulga a nova newsletter mantida por Zambelli, “para aqueles que querem saber quais serão os próximos passos da Deputada Federal Carla Zambelli, exilada na Europa”.
Além das alegações de silenciamento, diversas mensagens dizem que o ministro Alexandre de Moraes “partiu pra cima” da família de Zambelli, atingindo sua mãe e seu filho. A própria deputada chegou a afirmar que a decisão do magistrado era um “ataque à família”. Isto porque o ministro, ao determinar o bloqueio de perfis em redes sociais, listou páginas mantidas pela mãe da deputada, Rita, e pelo filho, João.
Uma das mensagens mais reproduzidas no Telegram — e que circula em duas versões — compartilha um vídeo do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) com os dizeres: “Que Justiça é essa? Moraes parte para cima do filho e da mãe de Carla Zambelli”. As publicações aproveitam e anunciam um curso de Gayer para transformar perfis no Instagram em “máquinas de seguidores e vendas”. O texto circulou em 7 mensagens únicas, podendo ter impactado 13 mil pessoas.
Em todas as postagens sobre o alegado “ataque à família”, omite-se que Zambelli anunciou a transferência de suas contas em redes sociais à mãe, pré-candidata a deputada federal. O único perfil do filho que foi atingido pela decisão é o do Instagram, onde ele costuma veicular postagens favoráveis à mãe, Carla. João Zambelli foi apresentado pela deputada como pré-candidato a vereador em São Paulo, em 2028.
Mas, se as críticas ao Judiciário dominaram os grupos da direita, houve também quem comentasse sobre a “fuga” de Zambelli em tom de comemoração ou chacota. A exclamação “Zambelli fugiu!” aparece em 37 mensagens únicas, em 20 grupos de WhatsApp e Telegram, podendo ter alcançado 130 mil pessoas.
Entre as publicações mais comuns com a frase estão um vídeo humorístico que ironiza os pedidos de Pix da deputada e outro que mostra a cena de perseguição armada protagonizada por Zambelli em São Paulo, às vésperas das eleições presidenciais de 2022.
💬 Por que isso importa?
Ao deixar o país e tornar-se alvo de um pedido de prisão pelo STF, Zambelli pode gerar mais um embate entre a Câmara dos Deputados e o Poder Judiciário. De acordo com a Constituição Federal, a prisão de um parlamentar precisa ser confirmada pelo plenário da Câmara. Assim, será preciso que 257 parlamentares votem a seu favor para evitar a prisão. Caso isso ocorra, o Poder Legislativo terá impedido uma decisão da Justiça, o que pode abrir uma crise institucional de proporções ainda desconhecidas.
Em 2022, Carla Zambelli foi a mulher mais votada do Brasil, com 946 mil votos. Na gestão Jair Bolsonaro, foi vice-líder do governo na Câmara, sendo uma das mais reconhecidas defensoras do ex-presidente. Mesmo assim, a parlamentar, que conta com 3,7 milhões de seguidores no Instagram e 3,2 milhões no Facebook, já foi acusada pelo próprio Bolsonaro de ser a responsável pela derrota eleitoral de 2022. “Ela tirou o mandato da gente”, disse, em entrevista ao podcast Inteligência Ltda.
No STF, Zambelli ainda é investigada nos inquéritos das fakes news e das milícias digitais. Por tudo isso, seu nome, certamente, ainda circulará e muito entre grupos de aplicativos, redes sociais e nos bastidores do poder em Brasília.
E mais…
Ao menos 78 grupos de WhatsApp e Telegram falaram sobre Léo Lins nos últimos dois dias. O humorista apareceu em 135 mensagens únicas, que podem ter alcançado 730 mil pessoas nos dois aplicativos. Lins foi condenado a oito anos e três meses de prisão pela 3ª Vara Criminal de São Paulo, em ação impetrada pelo Ministério Público Federal (MPF) em 2023. A Justiça entendeu que ele incentivou a propagação de violência verbal e fomentou intolerância em seu show “Perturbador”, de 2022. Cabe recurso. Nas redes, as mensagens mais compartilhadas são um trecho do programa de Danilo Gentili com críticas à condenação e, justamente, a íntegra do show de stand-up comedy “Perturbador”.
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Metodologia desta edição
Query 1: Carla Zambelli
Query 2: fuga OR fugiu AND Zambelli
Query 3: Zambelli fugiu!
Query 4: Léo Lins
Período: 3 e 4 de junho de 2025
Recorte idiomas: Português
Plataformas observadas: Grupos públicos de WhatsApp e Telegram
Ferramentas de apuração: Palver.com.br
p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
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Obrigada por ler a 🔥Ebulição!