🔥Decisão do STF sobre Bolsonaro mobiliza apps
Com expressões polarizantes e emojis, grupos prometem transmissões ao vivo e olho no detalhe
🗞️ O que está acontecendo?
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) começa nesta terça-feira (25) a julgar se aceita a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra os investigados por suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Entre os denunciados está o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete pessoas, que compõem o chamado núcleo da trama golpista.
Três sessões foram reservadas para a análise do caso: duas nesta terça (pela manhã e à tarde) e uma extra na manhã de quarta-feira (26). A expectativa é de que a Turma se posicione ainda nesta semana sobre a aceitação (ou não) da denúncia.
Nos grupos públicos de WhatsApp e Telegram, no entanto, o clima é de final de Copa do Mundo, com menções a “contagem regressiva”. Usuários mais desatentos podem inclusive chegar a acreditar que as sessões desta semana no STF já poderão levar à condenação do ex-presidente. Não é bem assim.
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Se a denúncia for aceita pelo Supremo, será aberta uma ação penal e Bolsonaro e os demais denunciados se tornarão réus. Somente ao final desta ação penal, depois de serem ouvidas testemunhas e réus, é que o ex-presidente pode eventualmente ser condenado e preso.
Mas a mobilização nos apps é intensa mesmo assim. Nos últimos sete dias, segundo dados da Palver, 157 mensagens únicas com a expressão “julgamento de Bolsonaro” circularam por 96 grupos públicos, alcançando mais de 330 mil pessoas.
As postagens mais virais informam onde assistir às sessões da Primeira Turma ao vivo, destacam o reforço na segurança na Praça dos Três Poderes, em Brasília, frente a um suposto risco de violência e trazem análises de diferentes espectros políticos e jurídicos do momento. Enquanto uns veem o julgamento como uma resposta institucional ao golpismo, outros o tratam como perseguição política.
📊 O contexto importa:
Boa parte das mensagens sobre a agenda do Supremo debateram o fato de que, na última quinta-feira (20), o plenário virtual da Corte confirmou que os ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino e Cristiano Zanin poderão participar do julgamento sobre Bolsonaro e outros denunciados por golpismo. Foram rejeitados todos os pedidos de afastamento dos três ministros, considerados por alguns críticos do STF como abertamente contrários ao ex-presidente.
O ministro André Mendonça, único integrante do Supremo que votou a favor do afastamento de Alexandre de Moraes e Flávio Dino, foi alvo de intensas análises. Dezenas de postagens destacaram seu voto contrário aos colegas como um suposto gesto de independência e um movimento para garantir a imparcialidade da Corte no processo.
No entendimento de Mendonça, Moraes não poderia continuar na relatoria da denúncia da PGR por ter sido vítima de uma suposta tentativa de assassinato planejada pelo grupo denunciado. Dino não deveria estar no julgamento por ter entrado com uma ação contra Bolsonaro antes de chegar ao STF. Os dois argumentos de Mendonça, no entanto, foram derrotados.
🎥 O que viralizou:
Entre os conteúdos mais compartilhados sobre “julgamento de Bolsonaro” estão links para transmissões ao vivo das sessões da semana passada (sobre a permanência de Moraes, Dino e Zanin no caso) e das sessões desta semana. Tanto canais alinhados à esquerda quanto portais bolsonaristas promovem suas cobertura prometendo ficar de olho em “todos os detalhes" do que acontece na Corte.
A linguagem usada nessas mensagens tem um tom de urgência, espetacularização e forte apelo visual. Termos como “AO VIVO” e “ASSISTA AGORA”, em letras maiúsculas, se misturam com “cobertura completa” e “acompanhe cada detalhe”. Emojis (📺🚨🏛️) também são salpicados aqui e ali para atrair a atenção imediata dos usuários. Promove-se a ideia de que o julgamento é um evento histórico e decisivo, impulsionando a polarização política. O objetivo — tanto da esquerda quanto da direita — parece ser mobilizar suas bases digitais com linguagens de confronto e protagonismo para as decisões dos próximos dias.
🚨 O que dizem as checagens?
Postagens que viralizaram no Facebook e no X acusam, de forma enganosa, o ministro Alexandre de Moraes de ter votado a favor da própria participação no julgamento da denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. A alegação é falsa. Moraes não participou da votação sobre seu possível impedimento e se manifestou apenas em relação à presença de outros ministros no caso.
Também circulam comparações equivocadas entre o julgamento desta semana e o do mensalão. Publicações no Facebook e Instagram afirmam que o processo contra Bolsonaro estaria ocorrendo com uma velocidade excessiva em relação ao caso do Mensalão, julgado entre 2005 e 2012.
No entanto, as comparações ignoram um ponto crucial: o STF está apenas decidindo se aceita ou não a denúncia apresentada pela PGR. Ou seja, trata-se de uma fase preliminar, e não do julgamento do mérito da acusação.
💬 Por que isso importa?
A eventual aceitação da denúncia contra Jair Bolsonaro pelo STF e um possível julgamento têm potencial para moldar os próximos passos — e discursos — da extrema direita no Brasil. Nas redes e aplicativos de mensagem, já circula um grande volume de mensagens que questionam a imparcialidade da Corte. Termos como “perseguição política”, “tentativa de calar a oposição” e “injustiça” devem ganhar ainda mais força ao longo da semana, a depender do desenrolar das sessões.
Cada declaração dos ministros será minuciosamente analisada, dando origem a múltiplas interpretações, tanto favoráveis quanto críticas. Diante desse cenário, é fundamental que o debate permaneça no campo democrático. Tudo bem se parecer à Copa do Mundo. O importante é não escalar para um ambiente de confronto ou hostilidade.
Que tal encerrar a semana se informando sobre as principais narrativas desinformativas?
E mais…
O empréstimo consignado para trabalhadores com carteira assinada (“Consignado CLT”) entrou em vigor no Brasil na última sexta-feira (21) e fez com que ao menos 32 mensagens únicas circulassem em grupos públicos de WhatsApp e Telegram, impactando quase 100 mil pessoas. Além de links noticiosos que registraram o alto volume de simulações realizadas – mais de 36 milhões em apenas três dias –, foi grande o número de posts que tratam esse anúncio econômico com desconfiança. Uma das mensagens mais compartilhadas ironiza o comportamento do “brasileiro médio”, afirmando que o empréstimo será usado para comprar um iPhone novo, um carro usado e/ou para pagar churrascos. O tom das publicações mistura alerta e deboche, sugerindo que, embora o programa tenha gerado enorme interesse inicial, ainda há dúvidas sobre seus riscos para a economia do país e sua viabilidade financeira para aqueles que o contratam.
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Nota da autora
A 🔥Ebulição é pensada para atender às suas necessidades. Mande seus comentários e sugestões para cris@lupa.news.Um abraço carinhoso,
Cris Tardáguila
Fundadora e repórter da Lupa
p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
Metodologia de trabalho utilizada nesta edição:
Query 1: “julgamento de bolsonaro” Query 2: “consignado CLT” Período: 17 a 24 de março de 2025 Recorte idioma: Português Plataformas observadas: Grupos públicos de WhatsApp e Telegram
Ferramentas de apuração: Palver.com.br
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