🔥Débora, do “perdeu, mané” no 8/1, vira hit
Ato esvaziado da esquerda em SP reacende mobilização pró-anistia em grupos bolsonaristas
🗞️ O que está acontecendo?
A campanha em favor da anistia aos presos pelos ataques de 8 de janeiro de 2023 voltou a se espalhar com força nos aplicativos de mensagem no Brasil. Entre os dias 24 e 31 de março, mais de 1.300 mensagens únicas sobre o tema circularam por pelo menos 280 grupos públicos de WhatsApp e Telegram, alcançando mais de 900 mil pessoas.
Gráficos gerados pela Palver mostram que esse novo pico de mobilização foi o segundo maior de março, atrás apenas do registrado no dia 16, quando o ex-presidente Jair Bolsonaro reuniu cerca de 18 mil apoiadores na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, em defesa do indulto aos envolvidos nas invasões e depredações de prédios públicos em Brasília.
Receba nossa newsletter semanal sobre desinformação.
📊 O contexto importa
A nova onda de conversas sobre anistia ganhou fôlego após a esquerda realizar um ato esvaziado no último domingo (30), na Avenida Paulista, em São Paulo. Organizado para mostrar repúdio ao projeto de lei que prevê anistia aos golpistas, o protesto reuniu apenas 6 mil pessoas — um terço do público mobilizado por Bolsonaro — e foi considerado pelos aliados do ex-presidente um fracasso.
Apesar da presença de figuras como Guilherme Boulos (PSOL) e Lindbergh Farias (PT), o baixo comparecimento foi interpretado como sinal de desmobilização da esquerda, incentivando a retomada da campanha pró-anistia nos grupos bolsonaristas.
Enquanto isso no Congresso, líderes da oposição intensificam as conversas para acelerar a tramitação do projeto. O presidente da câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) tem conversas com deputados de diferentes legendas nesta semana sobre a proposta. O objetivo do PL é pautar o projeto em regime de urgência, sem passar pelas comissões.
🎥 O que viralizou:
No WhatsApp, o conteúdo mais viral da nova onda de mensagens pró-anistia foi uma música que transforma Débora Rodrigues dos Santos — presa por escrever “perdeu mané” em estátua do STF durante ataques golpistas em Brasília — em símbolo de resistência contra o Supremo Tribunal Federal (STF).
Com estética pop e narrativa de martírio, a canção circulou em centenas de grupos públicos baseados em Minas Gerais, Maranhão, Sergipe e Goiás, terminando por levar a seta dupla da Meta devido a seu alto índice de viralização.
Com tom de sofrência, o refrão diz que “Com batom na mão, ela acordou a nação / Jogada de cena, mas não recua não / Essa é a Débora, nossa solução”. Na tela, imagens da família da presa giram em looping.
Outro conteúdo que também explodiu em circulação no WhatsApp aponta deputados e senadores supostamente contrários ao projeto de lei que propõe anistia aos presos do 8 de janeiro. As mensagens, que circulam em diferentes versões, chamam esses parlamentares de traidores e insinuam que eles devem explicações à população.
Já no Telegram, o conteúdo mais viral foi um vídeo de Jair Bolsonaro convocando seus apoiadores para um novo ato na Avenida Paulista, marcado para o próximo domingo (6). Na gravação, o ex-presidente volta a defender a anistia e exalta figuras como Débora, que classifica como vítima injustiçada.
Outras gravações que também retratam os detentos como inocentes perseguidos também se destacaram nessa retomada da conversa sobre a anistia. Esses vídeos usam trilhas sonoras emocionais e letras garrafais sobre imagens de tristeza para reforçar a mensagem de que os presos do 8 de janeiro estão sendo injustamente punidos por expressarem suas opiniões.
🚨 O que dizem as checagens?
Ao menos uma desinformação já desmentida pelos checadores do país pode ter impulsionado a retomada das conversas pró-anistia. Um vídeo que mostra uma pessoa nua em cima de um carro de som circula nas redes como se tivesse sido gravado no protesto da esquerda no domingo. Na verdade, as imagens são de outro evento: a 2ª Marcha Transmasculina, que ocorreu separadamente em São Paulo e defendia os direitos da população trans.
💬 Por que isso importa?
A campanha pela anistia dos presos do 8 de janeiro muitas vezes não se limita a defender figuras específicas. Surge em apps e redes sociais em meio a uma tentativa estratégica de reescrever os eventos ocorridos naquele dia. Há quem tente minimizar a gravidade dos ataques às instituições democráticas e simultaneamente mobilizar o eleitorado conservador em torno de novos símbolos.
Também vale lembrar que o fato de uma música sobre uma suposta vítima estar se popularizando (ao menos em grupos de WhatsApp e Telegram) não é algo casual. Mobilizar as emoções por meio da cultura e do simbolismo é tática conhecida dos desinformadores. Um exercício interessante é imaginar (e também investigar) como a canção surgiu, quem fez seu videoclipe e a partir de onde se deu sua difusão.
AJUDE A MANTER NOSSO CONTEÚDO GRATUITO: FAÇA UM PIX PARA CONTEXTO@LUPA.NEWS
E mais…
A paralisação nacional dos entregadores de aplicativo, iniciada na segunda-feira (31), ganhou tração em grupos públicos de WhatsApp e Telegram nas últimas 72 horas. Dados da Palver indicam que pelo menos 51 mensagens únicas sobre o protesto circularam por 44 grupos, alcançando mais de 44 mil pessoas desde o domingo (30). No Telegram, o foco principal foi a divulgação da greve e o esforço para ampliá-la em escala nacional. No WhatsApp, o debate ganhou contornos claramente políticos. Algumas mensagens responsabilizaram o governo federal por falhas na condução da política econômica, enquanto outras miraram a iniciativa privada. O iFood, Uber Flash e 99 Entrega, em particular, foram alvo de críticas por supostas taxas abusivas e pela pressão exercida sobre seus entregadores. Houve quem pregasse boicote a essas marcas.
Nota: Na última edição da Ebulição, informamos erroneamente que o ex-presidente Jair Bolsonaro havia falado sobre o fato de ter se tornado réu depois de deixar o Supremo Tribunal Federal. Na verdade, quarta-feira ele assistiu à sessão da corte que decidiu acolher a denúncia feita contra ele pela Procuradoria Geral da República no gabinete do filho Flávio Bolsonaro no Senado. Agradecemos ao leitor atento que nos avisou sobre a falha, e informamos que o texto foi devidamente corrigido no Substack.
📩 Conhece alguém que deveria ler a 🔥Ebulição? Compartilhe este link aqui.
Nota da autora
A 🔥Ebulição é pensada para atender às suas necessidades. Mande seus comentários e sugestões para cris@lupa.news.Um abraço carinhoso,
Cris Tardáguila
Fundadora e repórter da Lupap.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
Metodologia desta edição
Query 1: anistia
Query 2: entregadores AND greve
Período: 24 ao 31 de março de 2025
Recorte idioma: Português
Plataformas observadas: Grupos públicos de WhatsApp e Telegram
Ferramentas de apuração: Palver.com.br
Conheça nossa política de privacidade.
Obrigada por ler a 🔥Ebulição!