🔥’Anti-Alexandrismo’ abraça Mark Zuckerberg
Críticos do ministro do STF acreditam em ‘São Trump’ e veem CEO da Meta como novo salvador
Na terça-feira (7), a Meta anunciou que encerra (a princípio só nos Estados Unidos) uma das iniciativas mais importantes de combate à desinformação já lideradas por uma big tech, o Third Party Fact-Checking Program (3PFC).
Desde 2018, a Lupa atua nesse projeto, informando à empresa (por meio de checagens públicas), se posts feitos no Facebook, Instagram e Threads são verdadeiros, falsos ou enganosos. Apesar de o programa ainda estar ativo no Brasil, a decisão impacta de forma negativa o universo dos checadores.
Por isso, na seção “E mais…” de hoje compartilhamos alguns links que consideramos relevantes. São notas, explicadores e editoriais que poderão ajudar no entendimento das últimas notícias e na construção de um debate público de melhor qualidade. No mais, queremos agradecer sua companhia e pedir que considere apoiar nosso trabalho.
Ao anunciar o fim do programa de verificação de fatos que funciona nos Estados Unidos desde 2016, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, atacou os checadores; anunciou que se alinha ao segundo governo do presidente Donald Trump; disse que vai lutar contra as tentativas de regulamentação das big techs iniciadas na União Europeia; e que deve abraçar o modelo (ineficaz) de moderação de conteúdos que o X faz por meio das “notas da comunidade”.
Mas boa parte das pessoas que debatem política em grupos públicos de WhatsApp e Telegram no Brasil só ouviram uma única coisa: um suposto ataque ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
Dados extraídos da Palver entre a manhã da terça-feira (7) e a noite da quarta (8) mostram que ao menos 912 mensagens únicas sobre o anúncio da Meta circularam em português e pelo Brasil. Mais de 343 grupos públicos com pelo menos 1,08 milhão de membros foram impactados por esse conteúdo, fazendo dele o assunto mais popular nesses apps no período analisado.
No Telegram, as mensagens mais virais anunciam a “volta da liberdade de expressão no Facebook e Instagram”, afirmando que Zuckerberg pôs “fim à censura” e que o CEO da Meta “detonou Alexandre de Moraes”. Nada disso é verdade.
No WhatsApp, os conteúdos mais disseminados seguem na mesma linha. Celebram a ideia de que Zuckerberg tinha acabado de denunciar “tribunais secretos” e alardeiam um tal de “efeito Trump", que seria capaz de fazer frente a corruptos, petistas e tudo mais que (na opinião deles) faz mal ao mundo.
Então vamos trazer para cá o que o CEO da Meta realmente disse no momento do vídeo em que menciona a América Latina (não o Brasil).
“Vamos trabalhar com o presidente Trump para reagir contra governos ao redor do mundo. Eles estão atacando empresas americanas e pressionando por mais censura. (...) Países da América Latina têm tribunais secretos que podem ordenar a remoção de conteúdos de forma silenciosa".
No Brasil, o Supremo Tribunal Federal e as cortes inferiores não são secretas. Decisões que determinam a remoção de conteúdo também não são. Eventuais sigilos aplicados a esses casos simplesmente acompanham o ordenamento jurídico nacional, que obviamente pode ser questionado mas não tachado de escuso.
Mesmo assim, e repetindo o que se vê com frequência nas redes sociais abertas, o anti-Alexandrismo ouviu o que quis e fez a interpretação que mais lhe interessava dos fatos.
“Xandinho vai colocar o Mark Zuckerberg nos inquéritos criativos do Fim do mundo? Afinal, Zuckerberg fez uma referência direta à censura na América latina e ao STF", perguntou um usuário do Telegram.
“Xandinho vai derrubar o Instagram, Facebook e Whatsapp no Brasil como fez com o X ou vai peidar na farofa?", acrescentou outro.
E a grande maioria das postagens do anti-Alexandrismo menciona um tal “efeito Trump", que estaria só começando e que seria capaz de acabar com tudo que há de mal no mundo. Na lista, entrariam políticos corruptos, militantes da esquerda e — como era de se esperar — juízes “parciais".
A Palver mostra que, nas cerca de 30 horas analisadas para esta newsletter, 20 mensagens únicas citando “São Trump” ou “Efeito Trump” circularam por 20 grupos públicos de WhatsApp e Telegram que juntos têm mais de 52 mil membros.
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E mais…
Editorial da Lupa sobre anúncio da Meta, nos Estados Unidos: Fake news não têm fim; programa de checagem da Meta, sim
Nota pública da LatamChequea, rede de checadores ibero-americanos, sobre como a decisão de Mark Zuckerberg impacta nossa região: "Fact-checking não é censura"
Nota pública da EFCSN, rede de checadores europeus, que lembra que a Meta não pode desrespeitar regulamentação aprovada na União Europeia: EFCSN lamenta o fim do programa de verificação da Meta nos EUA e condena declarações que associam checagem à censura
Nota da autora
A 🔥Ebulição é pensada para atender às suas necessidades. Mande seus comentários e sugestões para cris@lupa.news.Um abraço carinhoso,
Cris Tardáguila
Fundadora e repórter da Lupa
p.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
Metodologia desta edição
Metodologia de trabalho utilizada nesta edição Query 1: mark OR zuckerberg OR zuck OR checadores OR checagem OR fact-checking OR fact-checkers OR "agência lupa" Query 2: "efeito trump" OR "são trump" Período: 7 a 8 de janeiro de 2025 Recorte idioma: Português Plataformas observadas: Grupos públicos de WhatsApp e Telegram Ferramentas de apuração: Palver.com.br
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