🔥SP: Bingo! Saiu o ataque a Paulo Freire
#16: VÃdeos desinformativos recuperam velhos ataques ao educador; vale tomar a 'cerveja do Boulos'?
A campanha eleitoral não estaria completa se não houvesse pelo menos um momento de ataque explÃcito ao educador Paulo Freire e à s polÃticas inclusivas praticadas em algumas escolas. Dados da Palver mostram que, desde segunda-feira (23), ao menos três vÃdeos com esse tipo de conteúdo circulam por grupos públicos de WhatsApp e Telegram que debatem polÃtica de São Paulo, impactando milhares de pessoas.
A gravação com mais destaque emerge de espaços que, em geral, são crÃticos a Guilherme Boulos (PSOL) e apoiam Marina Helena (Novo). O vÃdeo de 45 segundos de duração é um trecho do debate do Flow que mostra tanto Boulos quanto Marina falando sobre educação.
Ao ser questionado sobre seus projetos na área, o candidato do PSOL diz que quer fazer um "Mutirão Paulo Freire" com o objetivo de alfabetizar jovens adultos em São Paulo. A candidata do Novo toma, então, a tela e diz que a educação oferecida na capital paulista é ruim, mas que a ideia de amplificar a presença da metodologia de Paulo Freire na cidade poderia torná-la ainda pior. Olhando para a câmera, Marina Helena faz um apelo: "Mãe aà de casa, diga não a isso". Pelo menos 4 mil pessoas foram impactadas em oito grupos públicos de WhatsApp.
O segundo conteúdo que tem Paulo Freire como alvo não é novo. Trata-se de um texto supostamente assinado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e um trecho de uma entrevista que o educador deu ao programa Escola Viva em 1993. Na versão que viraliza nos apps, vê-se o momento em que Freire diz que o fracasso do aluno não é necessariamente culpa dele. A cena então é cortada e substituÃda por um trecho de um filme em que o ator Sylvester Stallone diz que para crescer é preciso aprender a apanhar e parar de "apontar dedos" e que um eventual fracasso é "culpa dele ou dela".
Entre as quase mil pessoas que receberam esse conteúdo em canais públicos de Telegram desde o dia 24, há quem diga que o método Paulo Freire de ensino – que busca levar em consideração o contexto sociocultural do aluno – é "a receita perfeita para a criação de gente disposta à escravidão".
Pelo menos desde 2018, em toda eleição, o educador considerado patrono da educação brasileira é alvo de desinformação. Seu nome é comumente associado à tentativa de "doutrinação" de crianças e jovens em idade escolar, tratada como a razão de boa parte dos problemas educacionais do paÃs. Ao longo de sua vida e obra, Freire, no entanto, sempre defendeu o oposto do que seus crÃticos indicam como doutrinação. Ele acreditava que a educação dada a cada indivÃduo deveria ser moldada à sua realidade individual e que não havia um único modelo.
Por fim, chamou a atenção da equipe da 🔥Ebulição a velocidade com que se difunde – não só pelos aplicativos de mensagem mas também pelas redes sociais (o X incluÃdo) – o trecho de uma entrevista de Ricardo Nunes (MDB) a um canal de YouTube sabidamente posicionado à direita do espectro polÃtico (no qual há, inclusive, confusão no nome do candidato do MDB, que é chamado erroneamente de "AluÃsio Nunes").
No vÃdeo se ouve o entrevistador lendo o que parece ser um documento da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo que estabelece formas de ajudar os jovens da cidade numa eventual transição de gênero. A gravação é propositalmente interrompida antes que Nunes se posicione sobre o assunto. O eleitor não fica sabendo, por exemplo, que o prefeito que busca a reeleição promete que "vai analisar" o documento e afirma taxativamente que, "de forma nenhuma", concorda com incentivo a polÃticas que promovam a transição de gênero entre crianças e jovens.
E mais…
A informação de que cervejarias artesanais de São Paulo se uniram para criar uma cerveja em homenagem a Guilherme Boulos (PSOL) bombou tanto no WhatsApp que acabou ganhando da Meta a seta dupla que indica conteúdos encaminhados com frequência. O lançamento oficial do rótulo está marcado para sábado (28), durante o Festival Bares pela Democracia. Enquanto grupos de esquerda pareceram curtir a novidade, os de direita destacaram que o objetivo declarado da ação é "promover agitação popular" – expressão que o grupo entende como promover caos ou desordem.
Pelo menos 16 mil pessoas (membros de 12 grupos públicos de WhatsApp e Telegram) receberam a notÃcia de que José Luiz Datena (PSDB) contratou o escritório de advocacia do criminalista Roberto Podval para defendê-lo no episódio da cadeirada em Pablo Marçal (PRTB). As mensagens que viralizam nos apps trazem a informação da contratação, mas também uma pitada de polêmica. Ao citar Podval, elas destacam que o criminalista defendeu o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu (PT) e o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. Ao associar – mesmo que de forma indireta – Datena a três condenados, as mensagens buscam convencer o eleitor de São Paulo de que o tucano não é de confiança.
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Nota da autora
A 🔥Ebulição está prestes a completar dois meses de vida, revelando – de forma inédita – o que viraliza em grupos públicos de WhatsApp e Telegram do Brasil. AdorarÃamos saber um pouco mais sobre você e sobre sua experiência por aqui. Escreva para mim no cris@lupa.news ou responda este breve questionário.
Cris Tardáguila Â
Fundadora e repórter da Lupap.s: A Lupa segue o Código de Ética da International Fact-Checking Network desde sua criação e tem a transparência e o apartidarismo como principais premissas de trabalho.
Metodologia desta ediçãoÂ
Termos buscados: "Guilherme Boulos" OR Boulos OR Datena OR "Ricardo Nunes" OR "Tabata Amaral" OR Tabata OR "Kim Kataguiri" OR Kim OR kataguiri OR "Maria Helena" OR "Abraham Weintraub" OR Weintraub OR "Altino Prazeres" OR Altino OR "Pablo Marçal" OR Marçal OR "Ricardo Senese" OR "Fernando Fantauzzi" OR "João Pimenta" OR prefeito OR prefeitura OR Podval OR Boulista OR trans OR Paulo Freire.
PerÃodo: 22 a 25 de setembro de 2024
Recorte geográfico: Brasil
Recorte idioma: português
Plataformas observadas: WhatsApp, Telegram e X (com acesso a partir dos EUA)
Ferramentas de apuração: Palver e sistema de busca do X.
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